Esperança de ver meu filho Jean Marc, torturado e banido, de volta ao lar. Esperança da liberdade para os presos políticos. Esperança de um Brasil melhor.

Quando Therezinha Zerbini, em 1975, fundou o Movimento Feminino pela Anistia, convidou-me para ser a coordenadora do Rio de Janeiro. Não me achava com forças nem capacidade para o cargo mas a bandeira era bela, irresistível.

Logo nos organizamos e lançamos o 1o Manifesto pela Anistia, na ABI, com a participação de Dr. Barbosa Lima Sobrinho. Foi uma luta difícil, numa época de repressão, de medo. Não se podia pronunciar a palavra Anistia. O trabalho foi de formiguinha, ao pé do ouvido.

Aos poucos a idéia foi tomando proporções, o povo começou a aderir e não houve mais quem segurasse a Anistia. O governo foi obrigado, pela opinião pública, a decretá-la.

Infelizmente a Anistia não foi ampla e irrestrita como desejávamos, muitos não foram anistiados, sobretudo os mais necessitados; os marinheiros e pequenos funcionários; de certo modo foi uma Anistia elitista.

A conquista da Anistia foi um preâmbulo para as "Diretas Já". Não havia mais clima para a Ditadura e os militares se deram conta disso. Mais uma vez o povo, nas ruas, foi vitorioso.

Mas tivemos nossos banidos de volta, as prisões se abriram. Momento de grande emoção ao abraçar Jean Marc no Galeão – parecia um sonho.

Mas a luta continuou: o MFPA do Rio mudou sua sigla para MFALD a fim de se engajar em outras lutas democráticas.

Houve um avanço na conquista das liberdades democráticas com a constituinte. A nova Constituição, talvez um pouco detalhada demais, garantiu os direitos sociais. Ainda lutamos para que os marinheiros pudessem ser anistiados na emenda no 26, mas não foi possível.

Infelizmente, com o atual governo, os direitos sociais estão em perigo. O Brasil foi vendido a preço vil, as leis trabalhistas estão na mira do governo e até a Justiça do Trabalho está em perigo.

A luta continua.

 *Regina Seabra von der Weid foi fundaddora e coordenadora do MFBA/RJ, familiar de ex-preso banido.

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