por Flávia Schilling e Flávio Koutzii

É por estas razões que o Comitê Brasileiro pela Anistia, Seção Gaúcha, vem a público coletar assinaturas em favor da libertação dos gaúchos Flávio Koutzii, preso há quatro anos na Argentina e Flávia Schilling, presa há seis anos no Uruguai. Os abaixo-assinados serão enviados ao Ministro das Relações Exteriores exigindo a interferência do governo brasileiro em favor da libertação destes dois compatriotas.

Recuperar a memória dos mortos e elucidar a situação dos desaparecidos, aqueles que foram seqüestrados pelos órgãos de segurança sem que nenhuma notícia tenha sido dada às suas famílias sobre o local onde estão é uma obrigação de quem luta realmente pela Anistia. Por isso, iniciamos aqui uma campanha de denúncia e busca de esclarecimento sobre a situação dos gaúchos que foram seqüestrados pela polícia e não sabemos se estão mortos ou vivos.

SÃO GAÚCHOS, ESTÃO PRESOS NOS CÁRCERES ESTRANGEIROS
FLÁVIO KOUTZII é gaúcho; teve sempre uma ativa participação no Movimento Estudantil. Foi dirigente regional e nacional da UNE. Devido a isso, foi muitas vezes perseguido pela repressão, através de seus órgãos oficiais de policiamento. Em dezembro de 1970 foi obrigado a abandonar o país, indo então para a França. Em 1972 foi processado, julgado e condenado à revelia, sem direito à defesa, a quatro anos de prisão, acabando assim a possibilidade dele retornar ao Brasil. Flávio quer estar ao lado do seu povo, de sua família e de sua mãe, Dona Clara. Por isso foi para a Argentina e recomeçou a estudar, mas Flávio é "marcado" e isto o levou à prisão junto com sua companheira e mais dez pessoas, no dia 11 de maio de 1975. Foram levados ao Departamento de Polícia Federal Argentino onde, depois de enfrentarem torturas, os homens foram levados para o Presídio de Mar del Plata e as mulheres ao de Olmos.

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Ainda em 1975, o governo argentino decreta a expulsão de Flávio, que logo depois foi cancelada, ficando Koutzii preso com a única acusação de pertencer a um "Complô Internacional", sem provas. Daí para frente, ficou quase que sistematicamente sendo transferido de prisão para prisão, sempre submetido a torturas.

Flávio é cardíaco, seu risco de vida é grande e está impedido de ler, fazer exercícios, tomar sol e até mesmo de falar. Sua condenação é injusta; não há provas concretas e as apresentadas foram forjadas.

O Comitê Brasileiro pela Anistia (….) desenvolve, por isso, campanha pela sua libertação.

FLÁVIA SCHILLING é gaúcha e está presa no Uruguai há seis anos. Ela saiu do Brasil para acompanhar seu pai, Paulo Schilling, jornalista e escritos que, por ser membro do governo anterior a 1964, foi perseguido e obrigado a procurar asilo em outro país. Flávia, junto com sua família reproduz o drama de centenas de exilados brasileiros que, além de fugir de sua pátria, são muitas vezes perseguidos, presos, torturados, como aconteceu com ela.

Por que Flávia foi presa em um país estranho? …… Ninguém melhor do que seu pai, Paulo Schilling, para responder a isso: "A juventude uruguaia…., compreendeu que vivia numa sociedade caduca, num país sem futuro. E decidiu transformá-lo radicalmente….. criar um Uruguai novo…. Mas pondo na tarefa todo seu idealismo, seu entusiasmo, sua capacidade de sacrifício, arriscando sua liberdade e, em muitos casos, a própria vida, Flávia foi somente mais uma – entre dezenas de milhares de outros jovens idealistas. Um grão de areia brasileira na construção de um Uruguai melhor e na formação da pátria grande dos latino-americanos".

Por isso Flávia foi presa aos 18 anos, recebeu um tiro no pescoço e foi torturada.

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Hoje, após seis anos de prisão, Flávia morre aos poucos na cadeia, onde está doente e continua a ser maltratada. Não tem nenhuma esperança de liberdade sem a intervenção do nosso povo, pressionando o governo brasileiro para que interceda junto ao Uruguai exigindo sua libertação. Já coletamos o dinheiro necessário para o resgate de Flávia que o governo uruguaio exige, que são Cr$309.000,00, depositados na caderneta de Poupança da Caixa Econômica Estadual, Agência Petrópolis. Agora exigimos a libertação de nossa compatriota, pois o dinheiro para o resgate está à disposição.

 

*Trechos extraídos, por Zilah Wendel Abramo, de Boletim do CBS-RS
Maio de 1979.

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