Resenha publicada no jornal Valor Econômico.

Coleção discute a formação do Brasil

O livro de Marilena Chauí é o primeiro dos 42 que devem integrar a série “História do Povo Brasileiro”, editada pela Fundação Perseu Abramo. Dos lançamentos já agendados, constam textos de Fernando Novais, Walnice Nogueira Galvão e Wanderley Guilherme dos Santos, entre outros distintos nomes do meio acadêmico.

Marco Aurélio Garcia, historiador da Unicamp, é o coordenador da coleção. Ele afirma que o fito do projeto é a reabilitação da história política, pois, com a crise do pensamento marxista, as interpretações de caráter estrutural teriam entrado em colapso. Ou seja: há uma visão comum a orientar os temas, de modo a contextualizá-los em meio a um debate político cujo fim, no limite, é a discussão de um projeto de nação. Daí que Canudos, a viagem de Cabral, a história dos índios ou o golpe de 64 servem de mote para o questionamento da construção da sociedade fraturada que ora se vê às voltas com a celebração de seu próprio opróbrio.

Garcia compara a coleção a projetos editoriais das últimas quatro décadas: a Cadernos do Povo Brasileiro; a História Nova; a Tudo é História e, mais recentemente, a Primeiros Passos. Seriam todas, segundo ele, fruto de uma vontade de se discutir o país à luz de temas políticos candentes. O mesmo agora: com o fim da euforia neoliberal e o turbilhão ufanista dos 500 anos, estaria reaberta a temporada de debates. Sem afetações acadêmicas: a idéia é que os textos sejam breves, didáticos, introdutórios.

O tom é de contraponto à historiografia que serviu de legitimação da maneira de ver e pensar o país de quem detêm os meios de produção e, por conseguinte, de dominação. O jargão faz sentido. A Fundação Perseu Abramo é mantida com verba do PT. Não que isso permita desconfiar da independência do projeto, mas ajuda a dar uma idéia do tipo de recorte histórico que se pretende lograr. (FM)

Resenha publicada no jornal Valor Econômico.

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