1. Como você participou da campanha da Anistia?
Não tive participação direta, nem nas negociações, nem mesmo nas condições em que deveria realizar-se essa Anistia. Minha única preocupação, muitas vezes expressa, se resumia no princípio de que a violência deveria ser excluída, para chegarmos, pouco a pouco a uma democracia política.

2. O que essa campanha representou pessoalmente para você, seus familiares e amigos?

Participei, por diversas vezes, de reuniões de brasileiros e latino-americanos exilados na América do Norte e na Europa. Todos eles manifestavam ansiedade e pressa para voltarem ao país, e, assim, retornarem à vida pública e particular.

3. Quais os momentos marcantes do processo para você (não necessariamente os momentos públicos, os grandes atos, e manifestações, mas também especialmente os momentos que tenham tido significação especial para você e que nem sempre foram tornados públicos?
O momento mais marcante, para mim, foi a viagem a Genebra, ao Conselho Mundial de Igrejas, para o encontro com o educador Paulo Freire e seus amigos. Cheguei a passar dois dias com o nosso querido e ilustre pedagogo Paulo Freire, para garantir-lhe volta sem dificuldades especiais e, ainda, um cargo de professor em nossa Universidade Católica. Aceitou o meu convite e confiou nas garantias que lhe demos para voltar ao nosso país e estado.
Ele mesmo preferiu encontrar-se com o seu povo nordestino, mas acabou aceitando a proposta de retornar com mais segurança, através das organizações de direitos humanos em São Paulo.

4. Na sua opinião, de que forma a campanha da Anistia contribuiu para a luta pela conquista das liberdades políticas e dos direitos sociais em nosso país?
A proposta da anistia chegou no momento certo. O governo militar vinha fracassando nas mais diversas áreas da organização do país. A economia, bem como os movimentos políticos revelaram a fraqueza e o despreparo daqueles que haviam assumido à força os destinos do país; Considero, por isso, positivos os resultados imediatos da campanha da anistia.
Um embaixador de grande prestígio confirmou minha idéia, quando afirmou que, em qualquer país, as mudanças são inevitáveis, quando os frutos de uma árvore apodrecem e o povo revela o seu descontentamento. Acrescentou até que o Brasil se mostrava por demais tolerante em relação os governo imposto pelos militares.

(São Paulo 1/6/99)

 *Cardeal D. Paulo Evaristo Arns é Arcebispo Emérito de São Paulo

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