Roque Aparecido Da Silva
No dia 13 de dezembro de 1968 eu estava em uma casa isolada na beira do mar, reunido clandestinamente com outros líderes sindicais, elaborando uma estratégia para a retomada da Organização dos Trabalhadores em Osasco, depois da repressão sobre a greve que tínhamos realizado naquele ano.
Chegando de volta a São Paulo no dia 14 de dezembro, vi a notícia da decretação do AI-5 nas manchetes de todos os jornais. Entendi que a repressão ia se tornar muito mais dura.
No mesmo dia a casa dos meus pais, onde eu morava, passou novamente a ser vigiada pela polícia. No dia 2 de fevereiro de 1969 terminei sendo preso, enfrentando as torturas e dois anos de prisão, até ser libertado em troca do embaixador suíço, em janeiro de 1971.
Assim o AI-5, para mim, significou clandestinidade, dois anos de prisão, muita tortura, morte de um irmão nas torturas, vários problemas para toda a família e oito anos de exílio.
Foi nesses anos, com muita violência, que se forjou a pessoa que sou hoje.
*Secretário Regional para América Latina e o Caribe da Federação Internacional de Sindicatos de Trabalhadores da Química, Energia, Minas e Indústrias Diversas (ICEM); ex-Secretário de Relações do Trabalho (1992-1994) e ex-Representante do Governo Brasileiro no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (1992-1994).