A ilegalidade da greve

 

Por Ricardo Kotscho

Até o último momento, os líderes operários tentaram negociar um acordo decente. Mas a determinação do governo, desde o início, era massacrar o movimento operário do ABC, cujo exemplo já brotava nos anseios libertários de outros setores da nação. E os empresários cumpriram à risca seu papel, fazendo pé firme, negando qualquer tentativa de entendimento. Surpreendentemente, num primeiro momento, o Tribunal Regional do Trabalho não cumpriu a parte que lhe cabia naquela farsa, negando-se a decretar a ilegalidade da greve. Poucos dias após, porém, o mesmo tribunal – sem que qualquer fato o justificasse, apenas com a providencial mudança de alguns juizes e algumas consciências – decretou a ilegalidade de greve, abrindo caminho para que o governo e os órgãos de segurança cuidassem do resto: a intenção policial, o afastamento dos líderes, as prisões e todo o arsenal de violência tradicionalmente empregado contra os trabalhadores. Alguns pensaram em resistir. Mas todo eles sabiam que isto seria impossível, posto que a relação de forças era desigual. Perdido o prédio, manteve-se acesa a chama de luta dos metalúrgicos, que defenderam seus ideais nas ruas, enfrentando sem trégua o maior aparato policial-militar já visto no combate a uma greve. E para enfrentá-lo, um operário ainda teve humor para empunhar sua metralhadora de brinquedo.
 

* Trecho extraído do livro A Greve do ABC

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