AI-5, Dramático aprofundamento do Golpe Militar de 10 de abril de 1964

Fui presa uma hora após a decretação do AI-5, às 21 horas do dia 13 de dezembro de 1968. Morava em Pariconha, subdistrito de Água Branca, no sertão de Alagoas, região fronteiriça com o sertão pernambucano. Era então militante da Ação Popular e desenvolvíamos um trabalho político junto aos trabalhadores da região. Eu era professora de alfabetização de adultos, no município de Ouricuri, a seis quilômetros de Pariconha.

Estávamos em casa, uma companheira e sua filha de 7 anos, meus dois filhos de 2 e 3 anos de idade e eu. Ouvimos pelo rádio, durante a Hora do Brasil, a leitura do AI-5. Estupefactas, ainda discutíamos, Rosa e eu, o significado das informações escutadas, quando a porta de nossa casa foi violentamente sacudida por golpes de canos de fuzis e um vozerio de homens, aos brados ordenava que abríssemos a porta. As crianças acordaram assustadas. Decidimos não abrir a porta pois ali estávamos somente nós duas e nossos filhos. Com violência e brutalidade arrombaram a porta, e se deparam conosco, as crianças nos nossos colos. Eram muitos homens, fardados, da Polícia Militar. Revistaram a casa, os colchões, os armários, à procura de armas. Sempre aos brados. Fui imediatamente colocada num jipe com os policiais. Dias depois, Rosa e as crianças também foram presas. Fiquei presa juntamente com meus filhos de dezembro de 1968 a maio de 1969. Ficamos no DOPS de Maceió, depois ficamos presas na então Escola de Aprendizes de Marinheiros, depois segundo a polícia ia ter a "honra" de inaugurar uma cadeia, recém-construída, onde fiquei trancada numa cela com as crianças durante um terrível verão de fevereiro e finalmente nos mandaram presas para o hospital do Corpo de Bombeiros, no centro de Maceió. A partir de nossa saída da cadeia, vivemos a longa noite da clandestinidade política, só encerrada com a decretação da Anistia, 11 anos depois, em agosto de 1979.

*É psicanalista, autora do livro "Pacto Revelado – psicanálise e clandestinidade política", São Paulo, Escuta, 1995. Participou da fundação e direção do Comitê Brasileiro pela Anistia de São Paulo de 1978 a 1982.

Texto republicado no especial "AI-5, quarenta anos", em 10/12/2008

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