Faço parte de uma geração castrada. Tinha 14 anos quando houve o golpe militar e 18 por ocasião da decretação do AI-5. Aprendemos o que era fazer política sem liberdade e com medo.

Medo de tudo. De falar ao telefone (podia estar grampeado), da camionete C-14, da Chevrolet (que era usada pelo DOI-CODI), de olhar no retrovisor (podíamos estar sendo seguidos), de olhar para a esquina de casa (podíamos estar sendo vigiados).

A nossa consciência política acabou sendo formada muito mais pela sensibilidade do que propriamente por alguma outra motivação, porque não era possível ser jovem e calar diante da falta de liberdade, da tortura, da exploração da miséria.

A ditadura foi uma noite longa, um pesadelo que conseguimos impedir que atingisse também os nossos filhos, mas que não pode ser esquecida, para jamais se repetir.

Erramos muito na forma de combatê-la, sem dúvida, por romantismo, por voluntarismo, por inexperiência. Mas eis aí um erro do qual só temos motivo para nos orgulhar porque, fundamentalmente, na essência, estávamos mais do que corretos, insurgentes, revoltados, levados pelo coração de quem queria fazer a coisa certa.

O AI-5 acabou não porque o general de plantão assim resolveu. Acabou formalmente porque já havia sido revogado na prática – na prática libertária da brava, e sofrida, gente brasileira.

*Jornalista, foi militante da ALN, do PCB e votou para presidente pela primeira vez aos 39 anos, junto com seu filho mais velho, André, que já tinha 16.

 

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