Izaías Almada
Cansados pelas exaustivas discussões de um congresso político da VPR no litoral paulista, Onofre Pinto e eu aproveitamos uma folga e viajamos para São Paulo. No mesmo dia fizemos a viagem de ida e volta, eu ao volante. Era o dia 13 de dezembro de 1968. Deixando a Via Dutra, logo após São José dos Campos, pedi ao Onofre para parar, pois começava a sentir os olhos pesados e alguma sonolência. Fomos para o acostamento e ligamos o rádio do carro, entre outras coisas para espantar o sono. Aproveitamos para um rápido xixi e um cigarro. Na época, ainda fumava.
Ali, ficamos sabendo sobre a edição do AI-5, o que já se comentava nas ante-salas do poder. Olhamos um para o outro. Sabíamos exatamente o que aquilo iria significar: carta branca para a repressão total. A partir daquele dia o Brasil recebia ordem de prisão.
Eu, como muitos companheiros, sobrevivi. Onofre Pinto, como tantos outros, desapareceu. O país escolhia um novo caminho e um novo destino…
*Escritor, dramaturgo e roteirista. Foi preso em 1969, como militante da Vanguarda Popular Revolucionária e, sobre o período, escreveu os romances A metade arrancada de mim e Clarão da América, ambos publicados pela Estação Liberdade.