Por Ricardo Kotscho

Por Ricardo Kotscho

Como ocorreu no 1º de Maio, a passeata das mulheres dos metalúrgicos, para pedir a libertação dos líderes presos e o fim da intervenção, fora proibida pelas autoridades de segurança. Como no 1º de Maio, apesar de proibida, a passeata saiu. Só mudou o aparato policial militar: em vez de tropa de choque, a polícia feminina cercou a manifestação. Entre uma e outra passeata, as forças de repressão haviam se vingado da derrota de 1º de Maio, com uma violência nunca vista antes.

Nada, porém, faria recuar aqueles homens e mulheres que lutavam por uma vida mais digna, depois de tantos anos de sofrimento e humilhação. Enquanto muitos de seus maridos pagavam na cadeia o crime de se submeterem apenas às determinações da classe operária, as mulheres saiam às ruas para protestar contra a violência e pedir justiça. O comércio fechou suas portas, escolas suspenderam as aulas, dos prédios chovia papel picado. De uma das janelas do caminho, jovens estudantes improvisaram seu apoio e escreveram com giz na parede: "Viva metalúrgicos". Não era muito, não era tudo, mas começava a nascer aí a solidariedade, a tomada de consciência de que estavam todos os deserdados do regime no mesmo barco. Atos públicos de solidariedade aos metalúrgicos começaram a pipocar por todo o país e de todo o país chagavam doações para o fundo de greve instalado nos fundos da Igreja da Matriz. Mais do que tudo, no entanto, dava força aos operários a solidariedade que recebiam dentro de suas próprias casas – o apoio das suas mulheres, exatamente as que sofriam com os baixos salários e as conseqüentes dificuldades para criar os filhos.

Não haveria heróicos operários no ABC sem o heroísmo anônimo e silencioso destas mulheres, que fizeram do seu amor uma luta lado a lado, até o fim.
 

* Trecho extraído do livro A Greve do ABC

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