A Igreja como palco de resistência.

Por Ricardo Kotscho

Expulsos do seu sindicato, com o Estádio de Vila Euclides ocupado pelas forças da repressão, os operários, perseguidos nas ruas, reuniram-se novamente em torno da Igreja Matriz de São Bernardo – logo também cercada pela tropa de choque da PM, polícia civil, federal e os temíveis agentes do DOI-CODI, que voltaram à cena nacional. E dia após dia, enfrentando toda espécie de ameaças, violência e humilhação, lá estavam aqueles milhares de operários, abrindo suas faixas, ecoando seu grito: "A greve continua". Toda coragem, porém, não era suficiente para fazer calar a emoção – e teve peão que chorou nos ombros de outro peão. Não era um choro provocado apenas pelas bombas de gás jogadas pela polícia, mas pela revolta de quem queria justiça e recebia como resposta a ponta dos fuzis e os cassetetes. Algemado aos pés do Cristo, na sacristia da Igreja Matriz, o líder Osmarzinho era o próprio símbolo da resistência da classe operária, que apesar de tudo se mantinha de pé. A cada líder que ia preso, outro estava preparado para tomar seu lugar – e a greve continuava. Encurralados, os operários encontravam na Igreja de D. Paulo Evaristo Arns, D. Cláudio Hummes o espaço e o ar que o Estado, a serviço do capital, lhes havia roubado. Mil vezes ministros e empresários anunciaram o fim da greve. Mil vezes os operários responderam com as fábricas paradas e os braços erguidos nas assembléias, a clamar por seus direitos.
 

* Trecho extraído do livro A Greve do ABC

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