Por Ricardo Kotscho

Fim da greve, os líderes são libertados. O sindicato continua sob intervenção, cercado dia e noite pela polícia do governo e dos patrões. Em vez de garantia de emprego, há demissões em massa nas fábricas, atingindo principalmente as lideranças; o índice de aumento salarial acaba sendo aquele mesmo que os empresários e ministros decidiram conceder – longe daquele reivindicado pelos operários. A conquista do delgado sindical nas fábricas continua na lista de reivindicações da campanha para o ano que vem. Em termos imediatos, os operários voltam para as fábricas de cabeça erguida, mais fortes e mais unidos, seu grito permanece no ar, seu exemplo é uma bandeira. Quem estiver disposto a olhar mais longe pode imaginar os efeitos desta histórica greve na vida de todo o povo brasileiro, durante tantos anos refém de um regime de força a serviço do grande capital, especialmente o multinacional. Os 40 dias de greve no ABC serviram para mostrar que as mudanças perpetradas pelos donos do poder nos últimos tempos, dentro do chamado processo de abertura, ainda estão longe de devolver à classe operária um mínimo de direitos que respeitem a condição humana. Se a greve do ABC revelou também a generosa solidariedade da Igreja na sua opção pelos pobres e oprimidos, de outro lado mostrou os estreitos limites de ação da sociedade civil, especialmente dos partidos políticos convencionais. Esta impotência da grande Nação diante do Estado onipotente serviu também para mostrar aos próprios metalúrgicos do ABC que sem uma luta política mais ampla, capaz de levar a mudanças estruturais, suas greves não serão mais que símbolos de uma luta que, no entanto, ainda se mostra insuficiente para, sozinha, soltar as amarras da opressão.

A partir desta greve, com efeito, as lideranças sindicais, Lula à frente, parte decididamente para uma luta que vai além das reivindicações trabalhistas específicas. Sem uma mobilização ampla de caráter nacional, que se passa a fazer em torno do Partido dos Trabalhadores, de greve em greve os metalúrgicos do ABC acabariam literalmente encurralados, sem forças – exatamente como pretende o governo e sonham os empresários. Em vez de objetivos imediatos, os operários buscam agora, sob a bandeira do PT, fazer do Brasil um imenso ABC de lutas.
 

Trecho do livro A Greve do ABC

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