João Baptista Breda
Um vanguardista, sempre esteve à frente de seu tempo e dos acontecimentos. Marcava sua presença em todos os mais importantes movimentos sociais e políticos do país.Carlito Maia. Conheci Carlito quando da criação do Partido dos Trabalhadores; era o mais animado e aguerrido dos militantes, mesmo sem jamais ter se filiado. No entanto, desde que colocou a primeira estrela do PT no peito, nunca mais deixou de usá-la, fazia parte de suas vestes, assim como o boné do MST, incorporado posteriormente. Antes de conhecê-lo, já sabia que era um publicitário dos mais inspirados. Irreverente, incisivo, crítico, impertinente, inquieto e genial, era também educado, simpático, simples e muito afetivo.
Com o tempo nossa convivência foi se estreitando e durante anos, nos encontrávamos todas as noites com um grupo de amigos no Café do Hotel Eldorado, na Avenida São Luís, grupo ao qual apelidou de Clube da Abobrinha, onde era proibido falar sério (mas falava-se sobre tudo o que havia de mais sério, importante e atual); enquanto jantava, lia o jornal do dia seguinte (que ele comprava toda noite na Folha de São Paulo), fazendo comentários sempre inspirados sobre as manchetes, principalmente as políticas. A tertúlia entrava pela madrugada e ele era sempre o centro das atenções; pontificava, mas permitia que todos à mesa tivessem seus três minutos de glória. Ria de tudo com um sorriso sempre franco e fácil, contagiante. Todos temos guardados seus bilhetinhos, que ele distribuía à farta sobre os mais diversos assuntos, numa linguagem sintética, direta e contundente. Um vanguardista, sempre esteve à frente de seu tempo e dos acontecimentos. Marcava sua presença em todos os mais importantes movimentos sociais e políticos do país, quando de sua redemocratização. Generoso, criou inúmeras frases para campanhas de seus companheiros de Partido e vibrava como criança a cada nova criação.
Quando se mudou dos Jardins para a Praça da República, com a sua inseparável Tereza Rodrigues, tornamo-nos vizinhos e ficamos mais próximos. Logo se tornou muito popular, criando inclusive um grupo chamado Os Centrais, visando recuperar o Centro da cidade, o que infelizmente, ainda não ocorreu. Estava sempre alegre, circulando pela praça e pelas ruas próximas, com sua elegante silhueta de Dom Quixote, de óculos escuros, boné do MST e estrelinha do PT no peito, tranqüilo como se estivesse no centro de Lavras, seu querido berço natal, em Minas Gerais. Com o tempo incorporou uma bengala ao seu estilo porque sua saúde já lhe cobrava os excessos da juventude boêmia. Quando finalmente recolheu-se em sua casa, já que a saúde já não lhe permitia os passeios, continuou produzindo, criando, sempre à frente de seu computador, escrevendo artigos, bilhetes e crônicas; continuou também a mandar flores aos amigos; lindas e comoventes flores, sempre acompanhadas de seus bilhetes, com muitos “beijares e abraçares” e quase sempre, charges de seu grande amigo Henfil. A casa ficou muito movimentada, pois todos os amigos passaram a visitá-lo, o que deixava a ele e Tereza muito felizes. E eu testemunhei toda a sua força de viver em momentos difíceis.
Assim como chegou, “a passeio, não em viagem de negócios”, foi embora, deixando saudade, mas também a lembrança de uma personalidade marcante, um Ser único, digno, corajoso, impetuoso.
Grande Carlito Maia!