Carlito Maia foi isso mesmo: sombra no sol a pino, alegria enxugando lágrima, raiz e copa, profundidade e comunicação direta.

Carlito Maia, filho de dois e pai de cinco, partiu fora do combinado na antevéspera de São João. Mas venceu na vida – que não é nada mas com coragem pode ser muito – perdendo, e se declarando um fracasso bem sucedido. Mineiro (que não fica doido, só piora), Carlito foi logo para São Paulo, aquela estranha cidade que junta os bandidos e afasta os amigos.

Apaixonou-se pela Poluicéia Desvalida, mesmo sendo um pacifista velho de guerra. Morreu aos 78 muito feliz: deixou inúmeros amigos, filhos queridos e três netos, seu salto triplo para a Eternidade. Namorador, era fidelíssimo às poucas pessoas que amou de verdade, e, em 19 de fevereiro de 1989, declarou seus 65 anos de bons serviços prestados à Mulher Brasileira, sua maneira derramada de ser feminista. Bebendo de um tudo, precisou ficar com o fígado abalado para descobrir que o álcool odeia quem o ama. Biografia rica em saudades, sabia que nostalgia é coisa do passado, mas gostava muito de passear por ele. Sempre jovial, Carlito oPTou: voou com tudo até a estrela do Partido dos Trabalhadores, desde a sua fundação, e pertencia ao PT U.I., da corrente Uno e Indivisível, sem medo de ser feliz.

Temia, porém, que ele involuísse de partidinho insolente para partidão indolente… Por concordar com Oscar Wilde, que dizia que "sonhador é aquele que percebe a aurora antes dos outros", este auto-didata labutava sob protestos desde os 12 anos de idade e reconhecia que só trabalha quem não sabe fazer coisa melhor. Veio ao mundo a passeio e não em viagem de negócios, pois dinheiro não é problema nem solução. Completou Descartes: penso nos outros, logo existo. Solitário como uma árvore e solidário como uma floresta, Carlito Maia foi isso mesmo: sombra no sol a pino, alegria enxugando lágrima, raiz e copa, profundidade e comunicação direta. Não queria outra vida, esta é boa demais. Para Carlito Maia, o Brasil… só fraude explica. Por isso queria ver Lula lá. Valeu o dito, valeu o escrito, Carlito. Um beijo no coração.

* Chico Alencar é correligionário de Carlito Maia e deputado estadual pelo PT do Rio

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