Público formado por professores, estudantes e interessados em geral acompanharam o segundo dia do seminário Revisitando a Era Vargas, cuja programação será encerrada nesta sexta, 27/8, no Rio de Janeiro. "Trabalhadores, Sindicalismo e Participação Política", coordenada por Alexandre Fortes, da Fundação Perseu Abramo (FPA), e "Desenvolvimento e Projeto Nacional", coordenada por Selma Rocha, diretora da FPA, foram os dois painéis do segundo dia do seminário "Revisitando a Era Vargas", que teve início no dia 25/08, no Museu da República (RJ).

  O primeiro painel, teve a participação de Fernando Teixeira da Silva, professor da Unimep e da Unicamp, que apresentou uma análise da produção historiográfica nacional e internacional relativa à temática da relação entre os trabalhadores e o populismo. Criticando a carga pejorativa e a imprecisão associadas a esse conceito. Teixeira da Silva alertou porém para a necessidade da manutenção de uma análise crítica sobre a Era Vargas, que incorpore o reconhecimento do papel ativo dos trabalhadores na transformação das oportunidades abertas no período em conquistas efetivas.

26/08 – Seminário Revisitando a Era Vargas. Da esquerda para a direita: Cliff Welch, Marco Aurélio Santana, Alexandre Fortes e Fernando Teixeira da Silva, que participaram do painel "Trabalhadores, Sindicalismo e Participação Política".

Fotos: Vera Siqueira

Já Marco Aurélio Santana, da Unirio, fez a crítica do conceito de sindicalismo populista e da postura de rejeição da experiência histórica pré-1964 que marcou o novo sindicalismo em suas origens. Cliff Welch, da Grand Valley State University, apresentou sua pesquisa inovadora que constesta a visão corrente na historiografia de que Vargas não teria tomado nenhuma iniciativa no que diz respeito à regulamentação das relações de trabalho e à organização sindical no meio rural.
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26/08 – Seminário Revisitando a Era Vargas. Da esquerda para a direita: Theotônio dos Santos, Antonio Luigi Negro, Selma Rocha e Paulo Fagundes Vizentini, que participaram do painel "Desenvolvimento e Projeto Nacional". Foto: Vera Siqueira.

Já no painel "Desenvolvimento e Projeto Nacional", o professor Theotônio dos Santos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destacou as distinções na análise do período Vargas entre a versão dominante da teoria do populismo e a escola da qual ele é um dos expoentes, que incorpora os conceitos de classe social e aliança como ferramentas centrais na explicação do fenômeno. Paulo Vizentini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), salientou as peculiaridades da figura histórica de Vargas e da geração de políticos gaúchos à qual ele pertencia quanto à sua formação como militantes do Partido Republicano Riograndense durante a República Velha. Ao mesmo tempo, situou as opções adotadas por Vargas com relação à construção de um processo de desenvolvimento nacional no campo de possibilidades históricas abertas no período que vai da década de 1930 à de 1950. Por fim, Antonio Luigi Negro, da Universidade Federal da Bahia (UFBa), expôs os resultados da sua pesquisa original demonstrando a articulação visando à implantação da indústria automobilística no Brasil ainda no final do segundo governo Vargas. Interrompidas pelo suicídio, essas iniciativas levariam, durante o governo JK, à construção do moderno parque industrial do ABC onde, ao contrário das expectativas da elite, os migrantes recém chegados dos sertões para se integrar às fábricas, reelaborando as tradições de lutas anteriores e o próprio discurso trabalhista oficial, viriam a se tornar personagens centrais da história política do país nas décadas posteriores.

O evento é promovido pela Fundação Perseu Abramo, CPDOC-FGV e Museu da República e será encerrado nesta sexta-feira, dia 27/08, com os painéis "Vargas e os militares" e "Cidadania e Direitos Sociais".