A quinta edição do Fórum Social Mundial teve 155 mil participantes, vindos de 135 países, distribuídos em 2.500 atividades promovidas por ONGs, partidos, universidades, e outros. Além da promoção de atividades, o Fórum serviu como espaço de articulação entre sindicatos, ONGs, redes, e partidos políticos. O comitê organizador comunicou que o próximo FSM será realizado na África, em 2007. No próximo ano, haverá fóruns descentralizados; o das Américas já está definido, será na Venezuela, segundo o Conselho Hemisférico, representante das Américas no Conselho Internacional que se encarrega da organização do Fórum.

  A Fundação Perseu Abramo promoveu cinco debates no FSM, todas com salas lotadas, reunindo mais de mil pessoas. Em dois eventos foram lançados livros relacionados aos temas – "O desafio do Fórum Social Mundial: Um modo de ver" e "Retratos da Juventude Brasileira – Análises de uma pesquisa nacional", com a presença dos respectivos autores/organizadores.

Quase mil pessoas assistiram ao seminário "América do Sul: integração, soberania e desenvolvimento. Foto: Cristiano Estrela.

Integração da América do Sul
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Gilberto Gil participa do seminário América do Sul:
integração, soberania e desenvolvimento.
Foto: Cristiano Estrela.

No primeiro evento, a conferência América do Sul: integração, soberania e desenvolvimento, os convidados Gilberto Gil (ministro da Cultura), Aldo Rebelo (ministro da Coordenação Política), Marco Aurélio Garcia (assessor de Política Externa da Presidência da República), Jorge Luiz Duran Centeno (cônsul da Venezuela em São Paulo), João Felício (secretário geral da CUT), Juan González (secretário de Integração, da CTA/Argentina) e Gustavo Petta (presidente da UNE) enfatizaram que a verdadeira integração só pode ocorrer se for superado o marco econômico.

Marco Aurélio Garcia defendeu a criação da cidadania mercosurenha e o esforço necessário para que o sentimento de pertencimento à região seja incorporado pelos sul-americanos. Ele também defendeu o apoio solidário entre os países da região e a importância do respeito às instituições políticas, às políticas trabalhistas, à política externa etc.

Aldo Rebelo falou sobre a universalização da língua espanhola e sua adoção nas escolas brasileiras. Ele ressaltou a posição firme assumida pelo governo brasileiro em defesa da integração e concluiu: "não podemos pensar em integração com o mundo, se estivermos de costas para a região". Juan Centeno chamou a atenção de todos para a responsabilidade de união dos países vizinhos para a realização do sonho de integração da região e falou sobre o despertar político do povo venezuelano e latino-americano.

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, ressaltou que o processo de integração é demorado, e lembrou que a própria Comunidade Européia – que hoje se consolidou -, teve início no começo da década de 1950. Para Gil, hoje a governabilidade estaria se sobrepondo ao conceito de soberania – "somos soberanos, mas somos interdependentes", ressaltou o ministro, que finalizou: "É preciso re-conceituar tudo. Dia-a-dia".

João Felício lembrou que a consolidação de vários governos do campo democrático e popular na região favorece a integração e que qualquer processo desse porte só será bem sucedido se conseguir extrapolar o aspecto econômico e levar em conta os direitos sociais. Juan González também enfatizou o respeito aos direitos num processo de integração: "o que nos falta, é o sujeito pleno de direito. Ele disse ainda, que a América Latina precisa se conhecer, aprofundar sua identidade.

Gustavo Petta ressaltou que no processo de integração é preciso pensar em incentivar a produção cultural latino-americana, adotar a regulação dos meios de comunicação de massa e criar a Universidade Latino-Americana.

Os desafios do Fórum Social

  Chico Whitaker, em pé, ao lado de Selma Rocha e Boaventura de Sousa Santos.

Foto: Cristiano Estrela.

A segunda atividade promovida pela FPA deu-se em torno do debate dos desafios do Fórum Social Mundial, com a participação de Chico Whitaker, Oded Grajew e José Corrêa Leite (todos membros do Comitê Organizador do FSM), e do sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

Durante o debate todos os convidados enfatizaram a necessidade de uma análise crítica sobre o futuro do Fórum Social Mundial. Para Chico Whitaker, o Fórum é um espaço em que a horizontalidade propicia interrelações, a livre
comunicação, a livre experiência. Segundo ele, o outro mundo possível é o que começa a ser construído dentro de cada um, na relação com os outros, no respeito à diversidade, sem que nada seja imposto. "O Fórum traz a possibilidade de cooperação, funciona dentro da lógica de rede".

O Oded Grajew, idealizador do Fórum Social Mundial, afirmou que é preciso refletir sobre o futuro e os riscos que ele corre. Para ele, muitas boas iniciativas nasceram quando pessoas idealistas e empreendedoras levam projetos à frente e dão certo. É nesse momento que o stablishment começa a querer cooptar e é aí que há um afrouxamento nas críticas. Nesse momento as propostas são absorvidas pelo stablishment e o que sobra é só a manutenção. Segundo ele, o risco aparece quando a disputa de poder se instala e o que era o objetivo maior passa a ser secundário. Para Oded, o novo mundo começa em cada um dos participantes do Fórum, quando colocam em prática os pensamentos que traduzem em suas bandeiras, em seus folhetos. Se esses pensamentos não forem incorporados na prática política diária, não vai ser possível um resultado coletivo. "Nada é impossível. Tudo o que imaginamos para um outro mundo é possível", enfatizou o idealizador do FSM.

José Corrêa lembrou que o Fórum é uma ferramenta de validade quase universal, por reunir forças que não tinham como se expressar e se tornou uma das maiores formas de organização política. Segundo Corrêa, o Fórum alimenta, alavanca a esquerda internacional e manterá sua vitalidade enquanto conseguir manter essa reunião de atores tão diversos. Mas ele aponta o pequeno grau de enraizamento do Fórum no pensamento brasileiro como um de seus principais problemas.

Boaventura de Sousa Santos aponta o Fórum como uma estratégia de risco que até agora foi bem sucedido. O Fórum, segundo ele, libertou uma energia emancipatória, que já existia, mas que estava bloqueada. Ele cita a incorporação do discurso da esquerda pelo Fórum de Davos como a maior prova do êxito do Fórum Social Mundial. Mas ele alerta para a ausência daqueles que justificam a presença de tanta gente em Porto Alegre. "Os indígenas não deveriam estar no centro do Território Social Mundial? Onde está a África? Onde estão os que mais precisam, os necessitados, inclusive os do Brasil?".

A importância da memória dos 25 anos do PT

O trabalho de organização da documentação e de construção da história do PT realizado pelo Centro Sérgio Buarque de Holanda foi o destaque desta oficina. Hamilton Pereira, presidente da FPA e fundador do PT, reconstituiu a trajetória do PT e ressaltou que o principal desafio é saber o que o PT pode oferecer para os 25 anos vindouros. Para Hamilton, "o PT não é um pacto ideológico com uma doutrina auto-definida, mas uma confluência de diferentes tradições que se unificaram na edificação de um projeto alternativo para o país". Também enfatizou que as crises vividas pelo PT atestam que o partido é um projeto vivo e demonstram a sua vitalidade. Um partido que não se atualiza tende a desaparecer. Ao finalizar, observou que é preciso criar formas para ampliar a participação dos petistas – novos e antigos filiados – em função da diversidade de interesses trazidos por esses filiados e pela conjuntura nacional.

O historiador Alexandre Fortes, coordenador do Centro Sérgio Buarque de Holanda, relatou o esforço de organização da documentação do PT e as perspectivas para os próximos anos. Para ele, a transformação de uma massa documental armazenada em porões até o momento atual, busca essencialmente a construção de um acervo aberto para diferentes interpretações. Neste aspecto, Fortes foi categórico: "não estamos produzindo uma história oficial, mas criando as condições organizativas para ampliar o campo de pesquisa sobre o significado do PT para a cultura política do Brasil". E concluiu afirmando que a documentação existente no Centro retrata a consolidação do partido nestes 25 anos, algo inédito, sobretudo, quando muitos duvidaram que o PT se viabilizaria como organização partidária duradoura e com significativo peso político.

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Os conceitos de gênero em discussão

No seminário "A Mulher brasileira nos espaços público e privado – gênero, patriarcado e violência" as convidadas Heleieth Saffioti, Maria Betânia Ávila, Celi Pinto e Vera Soares ofereceram um amplo painel sobre a situação da mulher brasileira, com base na pesquisa realizada pela FPA em 2001.

Mais informações em breve

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Retratos da Juventude Brasileira

No debate Projeto Juventude, os convidados Helena Abramo, Pedro Paulo Martoni Branco, Beto Cury, Gevanilda Santos, Regina Novaes, Paulo J. Krischke e Gustavo Venturi apresentaram análises sobre os diversos aspectos envolvendo a juventude brasileira e as propostas para este importante segmento da sociedade brasileira, com base nos resultados da pesquisa "Perfil da Juventude Brasileira", encomendada pelo Instituto Cidadania.

Durante o debate foram apresentados os principais resultados da pesquisa que apontaram a preocupação do jovem brasileiro com o desemprego e a violência, sua religiosidade (participação em cultos e missa). Para Regina Novaes, esses jovens ligados a alguma igreja ou movimento religioso é o mesmo que participa politicamente de movimentos. Gustavo Venturi, da Fundação Perseu Abramo, questionou a imprecisão de parte da imprensa, que ao analisar os dados apresentados pela pesquisa, mostra o jovem brasileiro como conservador e "careta".

Durante o debate foi lançado o livro "Retratos da Juventude Brasileira – Análises de uma pesquisa nacional", editado pela Editora Fundação Perseu Abramo, que traz artigos assinados por autores como Paul Singer, Antonio Lassance, Marilia Pontes Sposito, Nadya Araujo Guimarães, Ana Karina Brenner, Juarez Dayrell e Paulo Carrano, Gabriela Calazans, Maria José Carneiro, Regina Novaes, Gevanilda Santos, Maria José P. Santos e Rosangela Borges, Beatriz Carlinni-Marlat, Paulo J. Krischke, Gustavo Venturi e Vilma Bokany.

Leia artigo de Maria Rita Kehl publicado na Agência Carta Maior "Não se fazem jovens como antigamente?"

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