“Por que Lula chegou à presidência? Por que a sociedade conservadora deixaria um nordestino sindicalista na presidência?”  O economista Luiz Gonzaga Belluzzo abriu sua participação no seminário enfatizando que antes de se discutir um projeto de nação é preciso pensar meios de abertura da economia e identificando os tipos de política compatíveis. Segundo Luiz, a indústria brasileira precisa melhorar sua competição no comércio exterior para sair da posição desigual em que se encontra hoje. “É preciso defender a taxa de câmbio real”, disse ele, argumentando que o sistema financeiro deve ser controlado pelo Estado.

Para defender sua idéia, Luiz citou países como Japão e China que funcionam como um elo de engrenagem, com sucesso nas exportações para países como os Estados Unidos. De acordo com ele, os países asiáticos conseguem esse êxito devido a suas taxas de câmbio competitivas, que mantém os juros baixos. No caso da China, a estratégia é beneficiada pelo fato de o Estado controlar o sistema financeiro, defendendo os interesses próprios.

Ainda argumentando sobre a necessidade de mudança nos rumos das políticas cambial, monetária e fiscal, Luiz comentou que a indústria brasileira é submetida a trabalhar muito por pouco.E mesmo assim, nem sempre acompanha o mercado, como por exemplo na área automobilística, onde mesmo com o crescimento que vem conquistando, não consegue competir com os carros chineses e seus preços ainda mais competitivos.

Em sua conclusão, Luiz ressaltou a importância de uma boa gestão fiscal, com preservação dos investimentos. E ressaltou a possibilidade de uma política nacional de desenvolvimento que inclua mecanismos de controle do sistema financeiro, como regulamentação, teto para taxas de juros e valorização do câmbio.

O cientista político Juarez Guimarães falou sobre a tradição nacional-desenvolvimentista que se formou no Brasil nas últimas décadas, identificando seus três períodos principais: o da resistência nos anos do regime militar, o do impasse na segunda metade dos anos 1980 (com obstáculos políticos e econômicos na nova cena histórica) e o da crítica, nos anos de claro domínio do paradigma neoliberal na economia. A partir disso, Juarez diagnostica que ainda não se formou no Brasil um paradigma alternativo ao neoliberal que seja dotado de nitidez programática, hegemonia cultural e legitimidade política. Assim, o esforço necessário seria o de transitar do padrão de pensamento crítico ao programático, ou seja, “hierarquizar fundamentos e conceitos, apontar caminhos novos e definir uma práxis político-cultural”, define ele.

Outro diagnóstico que Juarez faz, com base nesse cenário político, é de que o pensamento original do professor Luiz contribui para esse processo porque tem capacidade de radicalizar a crítica da economia política neoliberal em um sentido republicano: “A crítica do liberalismo não é possível de ser feita somente nos termos da economia porque o liberalismo é uma visão de mundo economicista”, defende Juarez, explicando que a partir deste princípio é possível esboçar fundamentos de alternativa ao neoliberalismo.

Juarez defende o pensamento de Luiz de se constituir uma frente entre republicanos – socialistas, social-democratas e liberais sociais – para se isolar o pensamento neoliberal na cultura e derrotar sua força política, que reproduz as forças corrosivas do interesse mercantil e financeiro. Para Juarez, portanto, o impasse econômico é um impasse republicano, e é a afirmação do republicanismo a forma ideal para valorizar a autonomia individual e a pertinência cívica: “Isto de ser um cidadão livre, dotado de direitos sociais e integrado a uma comunidade política, a Nação”, esclarece ele, acrescentando que nossa conjuntura atual é a do impasse da legitimidade do que é público em um momento de crise das formas do domínio liberal.

Pensando na crise que assola o país, Juarez acredita que o desafio colocado ao PT, à militância e à sociedade é de se posicionar perante o governo Lula. Ele acredita que o atual governo é melhor do que o anterior, mas ainda está aquém do seu potencial. Para exemplificar seu pensamento, citou sete fatores que comprovam a eficácia do governo Lula: o aumento da independência externa do FMI; a saída da agenda da Alca e entrada na do Mercosul; o fato de ter invertido a curva de criminalização do MST e reiniciado o programa de reforma agrária; a reversão da curva do trabalho informal, com a criação de 118 mil empregos; a prioridade para a agricultura familiar, triplicando o orçamento; a paralisação do processo de aumento acelerado da dívida pública em relação ao PIB; e os 8 programas de inclusão social criados, inéditos na história republicana.

Com isso, o economista defende que em sua próxima campanha eleitoral, o PT anuncie a nova etapa de transformações que pretende para o Brasil a partir dessas conquistas. Para ele, é preciso dar um choque de republicanismo verdadeiro para todos e lutar pela dignidade do público, mas antes, é essencial “restaurar o valor utópico de ser capaz de falar com a esperança do povo brasileiro".

Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Política Externa da Presidência da República, destacou a importância da promoção do seminário para se debater questões pertinentes e refletir sobre o ano que resta no governo. Marco Aurélio ressaltou a necessidade de um esforço sistemático, com uma preparação mais forte para gerar ao país um processo acelerado de crescimento econômico. A crítica de Marco Aurélio é referente ao modelo econômico, com forte concentração de poder. Para ele, é preciso dar atenção à distribuição de renda, além de concentrar esforços na definição de um novo modelo que deve englobar inclusão social, unir trabalhos e ser capaz de abrir novas alianças ao empresariado.

Mas Marco Aurélio acredita que o governo atual segue o caminho do desenvolvimento: "Temos uma política de distribuição de renda, seja pelos programas sociais desenvolvidos, seja pelos empregos que estão sendo criados, seja pelo estímulo ao crédito e à agricultura familiar", afirmou. Mas para continuar no caminho certo, ele explica que é importante tentar responder algumas dúvidas banais: “Por que Lula chegou à presidência? Por que a sociedade conservadora deixaria um nordestino sindicalista na presidência?”. De acordo com ele, a resposta para isso é a vontade de mudança!

Assim, Marco Aurélio cita a necessidade de mudar a relação de forças internacionais, realizar reformas profundas no Estado brasileiro e reforçar os mecanismos de participação da sociedade na coisa pública. Para experimentar esse desenvolvimento acelerado e sair de um período de 25 anos de estagnação, deve-se focar num crescimento que não apenas produza, mas que seja decorrente da distribuição de renda, ou seja, um crescimento macroeconômico equilibrado.

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