A luta contra o fascismo
Apresentação
Olímpio Cruz Neto
Brasil vive uma distopia perigosa desde 2016, quando Dilma Rousseff (PT) foi deposta da Presidência da República num golpe travestido de impeachment. Sem crimes de responsabilidade, deputados e senadores cassaram uma presidenta honesta e rasgaram 54,5 milhões de votos dos brasileiros que a haviam reconduzido ao Palácio do Planalto.
Desde então, sucessivos retrocessos civilizatórios acometeram o país, com a ascensão de Michel Temer (MDB), que em ritmo alucinante atacou direitos sociais e fez erodir políticas sociais importantes para o combate à desigualdade secular brasileira. A agenda neoliberal derrotada por quatro vezes nas urnas, conseguiu chegar ao coração do poder central, esmagando as vozes populares.
Em seguida, essa mesma agenda promoveu a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, em outro golpe liderado pelo ex-juiz Sérgio Moro, aquele mesmo que havia colaborado para o impeachment de Dilma ao cometer grampear ilegalmente a presidenta em 2016 na perseguição a Lula. Moro condenou e prendeu ilegalmente e sem provas um ex-presidente da República.
A operação Lava Jato, desencadeada em 2014 por Moro e procuradores da República – com amplo apoio da mídia oligopolista nacional – abriu espaço para a eleição de Jair Bolsonaro (eleito pelo PSL, atualmente no PL), um extremista de direita que rapidamente cooptou amplos setores políticos, empresariais e o próprio Moro. O ex-juiz foi premiado pela prisão de Lula com o Ministério da Justiça, num convite desmoralizante feito pelo novo mandatário.
E aí veio o caos, com a caixa de Pandora sendo aberta para o espanto do mundo. Assim, o Brasil da cultura e do futebol, da música e da alegria, do exemplo de combate à fome e à miséria, passou a ser visto como a terra do mal e da devastação ambiental, a Nação onde se mata mais negros, jovens e pobres – aos montes – graças à polícia mais letal do mundo.
O país vem sendo corroído pelo bolsonarismo. As instituições passaram a ser sugadas pela extrema-direita, a ponto de os alertas aos riscos do atraso imposto pela agenda ultraliberal e ultraconservadora guiados por Bolsonaro e Paulo Guedes serem normalizados.
Em nenhum momento da história do Brasil, o ódio a negros, índios, jovens, intelectuais, artistas e ativistas dos movimentos sociais foi política de Estado. Mesmo a ditadura militar, que se impôs em 1964 e perseguiu e torturou opositores durante seus 21 anos de existência, jamais assumiu ostensivamente o rancor como uma expressão aberta e direta de sua política. Nenhum general-presidente defendia o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), como o extremista que ocupa o Planalto.
Em pleno ano de 2022, o que o país vivencia é a tentativa do neofascismo bolsonarista de expelir e acabar com qualquer resquício de política social ou luta institucional contra a desigualdade. Mas não sem o grito e alarme daqueles que se debatem contra o mal liderado por Bolsonaro.
Este livro traz algumas das vozes de personalidades da vida política brasileira que têm alertado, desde 2021, sobre os riscos que vivemos. São 13 brasileiros comprometidos com a defesa da democracia, da soberania nacional e da luta por um Brasil mais fraterno e solidário. Todos atacam os retrocessos com a manutenção desse projeto de poder que está levando o país ao século XIX.
Esses 13 brasileiros reunidos nesta obra são a expressão da resistência dos sonhadores que lutam contra o fascismo bolsonarista: Fernando Haddad, Izabella Teixeira, Tereza Cristina, Paulo Betti, Frei Betto, Chico Diaz, Dilma Rousseff, Rogério Cerqueira Leite, Marilena Chaui, João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Luis Nassif e Silvio Almeida.
As entrevistas foram colhidas pela equipe da revista Focus Brasil, editada pela Fundação Perseu Abramo (FPA), ao longo de 2021 – em plena pandemia da covid-19, que tirou a vida de mais de 500 mil brasileiros pela omissão criminosa e irresponsável de Jair Bolsonaro.
É hora de tomar o alerta das vozes desses 13 brasileiros como um trunfo político para restabelecer a vontade popular e derrotar o atraso.
Brasília, 25 de abril de 2022