Contador dos ‘Golden Boys’: peça-chave em esquema bilionário do INSS depõe na CPMI
CPMI do INSS aponta Mauro Palombo Concílio como o arquiteto financeiro do desvio de bilhões, revelando coincidências suspeitas em sua rede de clientes

A reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS revelou na quinta-feira (27) os detalhes de uma intrincada rede criminosa que desviou bilhões de reais de aposentados e pensionistas brasileiros durante o depoimento do contador Mauro Palombo Concílio, apontado como facilitador da arquitetura financeira do esquema. O depoimento do profissional, que reside nos Estados Unidos desde 2018, expôs conexões entre servidores do governo Bolsonaro, empresários conhecidos como “Golden Boys” e entidades fantasmas.
Engrenagem perfeita da corrupção
Os deputados do PT Paulo Pimenta (RS), Rogério Correia (MG) e Alencar Santana (SP) foram incisivos ao desmontar a narrativa de inocência apresentada por Palombo. O contador, que prestou serviços para pelo menos quatro das principais entidades investigadas (Amar Brasil, Master Prev, AASAP e ANDDAP), movimentou cerca de R$ 714 milhões em recursos supostamente desviados, segundo documentos da CPMI.
Paulo Pimenta questionou a coincidência estrutural: “Por que razão, com milhões de contadores aqui dentro do Brasil, alguém ia escolher um contador que mora nos Estados Unidos, que vem aqui três vezes por ano? E, curiosamente, todos eles, todos os investigados desse núcleo criminoso do INSS escolheram o mesmo contador, o mesmo advogado para fazer a documentação.”
Conexões com o alto escalão do INSS
As investigações revelaram que Palombo era contador de familiares de servidores do INSS investigados, incluindo Eric Fideles e Virgílio Guimarães, ex-procurador-geral do INSS nomeado no governo Bolsonaro. Pimenta destacou que “o Virgílio precisa montar uma empresa em nome da esposa para receber propina dos ‘Golden Boys’ e procura quem? Mauro Palombo Concílio”. A esposa de Guimarães, Thaisa Jonasson, teria movimentado pelo menos R$ 18 milhões por meio de empresas contabilizadas por Palombo.
O deputado petista gaúcho foi categórico ao afirmar que Palombo era “especialista no que ele faz” e que “todo esse grande esquema de corrupção que roubou bilhões ele tem como ponto de encontro aqui o seu Mauro Palombo Concílio”. As movimentações financeiras incluíam depósitos de “notas mofadas” – dinheiro em mau estado de conservação, indicando que estava guardado há muito tempo – e transferências suspeitas, como um depósito de R$ 104.000 da contábil Nelma (de Palombo) para Anderson Cordeiro.
Omissão do governo Bolsonaro
Alencar Santana destacou que o principal ato que teria permitido a fraude se deu através de uma decisão que autorizou Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) permitindo descontos associativos por entidades fantasmas. Documentos apresentados na CPMI mostram que o decreto assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Onyx Lorenzoni e Paulo Guedes em 2020 “abriu as portas para descontos associativos” e permitiu que “as entidades fantasmas pudessem começar a roubar aposentados”.
Rogério Correia ampliou o panorama ao destacar que o esquema movimentou mais de R$ 3,758 bilhões entre 2019 e 2022, período em que o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, recebeu alertas formais do Procon sobre os descontos indevidos, mas não agiu. “Toda a roubalheira veio de lá. Foi o Presidente Lula que acabou com essa farra”, afirmou Correia.
Santana questionou a explosão no faturamento das empresas criadas, citando que algumas tiveram um aumento de 16.000% no número de associados em um ano, resultando em um volume de recursos estrondoso em um período muito curto. O contador admitiu ter recebido cerca de R$ 2 milhões em honorários dessas entidades entre 2022 e 2024, período em que as fraudes atingiram seu ápice.
Politização da investigação
Na quinta-feira, tradicionalmente, a CPMI realiza a votação de requerimentos, incluindo a convocação de depoentes. A oposição manteve a tática de tentar, a todo custo, politizar os trabalhos, pedindo a convocação do advogado-geral da União, Jorge Messias, que estava investigando o caso. Os deputados da base do governo ressaltaram que as convocações deveriam focar em “figuras que participaram como secretário da previdência, ministro da previdência que participaram da AGU do governo anterior ou da CGU”. Pimenta classificou a tentativa como “factoide político” para prejudicar a indicação de Messias ao STF.
A cada novo depoimento, fica comprovada a conivência do aparato estatal durante o governo anterior, que permitiu que esse esquema se estruturasse e prosperasse, enquanto organizações da sociedade civil e órgãos de controle eram sistematicamente desmontados ou ignorados.
(com informações da Agência Senado)


