Programa da Revista Focus Brasil analisa levantamento nacional da Fundação Perseu Abramo e do Sesc sobre desigualdades que afetam mulheres brasileiras, especialmente mulheres negras

Pesquisadoras analisam desigualdades de gênero e raça no Semana em Debate 
Imagem: Arte FPA

A última edição do Semana em Debate, apresentada no YouTube da Fundação Perseu Abramo na última sexta-feira (21), analisou os dados da pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc. 

O programa destacou como desigualdades históricas de gênero e raça moldam a vida das mulheres negras no Brasil, com impactos diretos sobre renda, saúde e acesso a direitos. 

Desigualdade salarial e acesso a direitos 

Como ponto central do debate, Sofia Toledo, pesquisadora do NOPE/FPA, sintetizou a dimensão do problema: “Entre as pessoas que ganham até dois salários-mínimos, 59% são mulheres negras.”  

O dado, segundo ela, ganha ainda mais relevo quando cruzado com outro indicador: “Nos últimos 13 anos, houve um aumento de 50% no número de mulheres que buscaram programas sociais — e a maior parte desse crescimento também é de mulheres negras.” 

Ellen Coutinho, diretora da Fundação Perseu Abramo, observou que o racismo institucional ainda molda o acesso aos serviços públicos. “As violências nos serviços de saúde são muito características do racismo estrutural e institucional presente na sociedade. Por que existe essa disparidade entre mulheres brancas e mulheres negras no atendimento? Isso é herança escravocrata — e permanece evidente nos dias de hoje.” 

Sofia acrescentou outro recorte revelador: 26% das mulheres autodeclaradas negras relataram já ter passado por situações em que não tiveram acesso a produtos menstruais. 

“Quando perguntamos para mulheres brancas e negras sobre a distribuição gratuita desses produtos, quase 90% é a favor. É uma necessidade real, uma demanda pública — oferecida pelo SUS — e que recai mais pesadamente sobre mulheres negras.” 

Metodologia e abrangência da pesquisa 

A pesquisa está em sua terceira edição e se organiza em seis eixos: imagem das mulheres; corpo, sexualidade e saúde; violência contra as mulheres; proteção social e política de cuidados; trabalho remunerado e não remunerado; cultura política e participação.

O estudo ouviu 2.440 mulheres e 1.221 homens em todas as macrorregiões do país, em 25 estados, incluindo zonas urbanas e rurais. A metodologia combinou técnicas quantitativas e qualitativas e considerou diversidade de raça, escolaridade, renda, orientação sexual, identidade de gênero e idade — a partir dos 15 anos.