Governo federal reage à tragédia no Rio e envia ministros ao estado para apurar operação com 64 mortos
Em reunião convocada por Geraldo Alckmin, o Planalto definiu o envio de ministros ao Rio e reafirmou que não foi informado sobre a ação mais letal da história do estado, reforçando a necessidade de cooperação e planejamento entre as forças de segurança.

No fim da tarde desta terça-feira (28), o presidente em exercício Gerado Alckmin convocou no uma reunião no Palácio do Planalto para tratar da megaoperação policial no Estado do Rio de Janeiro, na Capital, considerada já a ação mais letal da história do estado fluminense, segundo confirma o Palácio Guanabara (Governo do Estado). O Governador em exercício é o aliado de Bolsonaro Cláudio Castro (PL-RJ).
O encontro durou cerca de uma hora e contou com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Sidônio Palmeira (Secom), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Jorge Messias (AGU) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos), além de representantes dos ministérios da Justiça, da Defesa e da Polícia Federal.
Em nota oficial publicada após a reunião, o Governo do Brasil salientou que “Durante a reunião, as forças policiais e militares federais reiteraram que não houve qualquer consulta ou pedido de apoio, por parte do governo estadual do Rio de Janeiro, para realização da operação”.
A nota informa ainda que o ministro Rui Costa entrou em contato com o Governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL-RJ) e que solicitou ainda realização de uma reunião de emergência na capital fluminense, com participação dele e do ministro Ricardo Lewandowski, nesta quarta-feira (29).
Também foi acordada a transferência de 10 presos do sistema estadual para presídios federais solicitada pelo governo do Rio de Janeiro. Em nota publicada ao final do encontro, a Casa Civil informou que o governo do estado não fez qualquer pedido de apoio federal para a operação desta terça-feira.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava em voo de retorno ao Brasil e não participou do encontro.
Operação
A chamada “Operação Contenção”, que mobilizou cerca de 2,5 mil agentes a céu aberto, foi deflagrada nesta terça-feira (28) nas comunidades da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, pelo governo do estado com o objetivo de conter a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) e prender lideranças da facção.
Moradores ficaram sob fogo cruzado, escolas e postos de saúde precisaram ser fechados, e terminais rodoviários e metroviários interromperam o funcionamento. O saldo, até o momento, é de 64 mortos, entre eles quatro policiais — dois civis e dois militares do BOPE —, e 81 pessoas presas, até a última atualização dos dados.
Governo federal contesta versão de Castro e apresenta dados
Sem informar ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) sobre a deflagração da operação, o governo estadual alegou falta de apoio federal. O governador Cláudio Castro afirmou que “o Rio está completamente sozinho”.
Em coletiva à imprensa, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que nenhum pedido de apoio foi feito pelo governo fluminense para a operação desta terça-feira. “Jamais negamos qualquer solicitação. Não recebemos comunicação prévia nem pedido formal para essa ação”, disse o ministro.
Segundo Lewandowski, o governo federal tem atuado de forma permanente no estado, com o envio da Força Nacional de Segurança Pública desde outubro de 2023, conforme a Portaria nº 766, de 12 de dezembro de 2023. A atuação, que pode ser renovada até dezembro de 2025, foi solicitada 11 vezes pelo estado e todas as solicitações foram atendidas.
Durante a entrevista, o ministro também destacou a necessidade de integração e planejamento entre as forças, princípio central da PEC da Segurança Pública, apresentada ao Congresso Nacional para fortalecer a cooperação entre União, estados e municípios. O vídeo completo da coletiva está disponível neste link.
Operações federais no Rio
De acordo com o MJSP, 178 operações da Polícia Federal foram realizadas no Rio somente em 2025, sendo 24 delas contra o tráfico de drogas e armas. O saldo inclui 210 prisões e 190 armas apreendidas, entre elas 17 fuzis.
A pasta destacou também os resultados obtidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pela Força Nacional no estado:
- 3.082 veículos recuperados
- 13.961 munições apreendidas
- 172 armas curtas e 72 fuzis apreendidos
- 8.250 pessoas detidas
- R$ 3,24 milhões apreendidos
- 29,5 toneladas de maconha apreendidas
- 3,9 toneladas de cocaína apreendidas
- 73.990 unidades de drogas sintéticas
Esses dados, segundo o ministério, demonstram o “esforço contínuo do governo federal no enfrentamento ao crime organizado e na redução do poder bélico das facções criminosas”.
Recursos não utilizados pelo estado
O Ministério da Justiça também lembrou que o Rio de Janeiro dispõe de recursos significativos já transferidos pelo governo federal para investimentos em segurança pública.
Pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), o estado recebeu R$ 331 milhões desde 2019, dos quais R$ 157 milhões foram utilizados, restando R$ 174 milhões disponíveis.
No caso do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), o repasse total foi de R$ 143 milhões, mas apenas R$ 39 milhões foram aplicados.
Além dos repasses, o estado recebeu equipamentos, drones, veículos, coletes e munições — um investimento de cerca de R$ 10 milhões — e participa de programas federais como a Rede Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Renorcrim) e a Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções (Recupera).
Edinho Silva e Gleisi Hoffmann pedem cooperação
O presidente nacional do PT, Edinho Silva, lamentou o saldo da operação e destacou a necessidade de inteligência e integração entre os governos. “Mais de 60 vidas foram perdidas numa ação desastrosa. O Ministério da Justiça afirmou que todas as vezes que o estado pediu a Força Nacional foi atendido. O governo federal tem mostrado que segurança se faz com planejamento e cooperação”, afirmou.
A ministra da Secretaria-Geral da Presidência, Gleisi Hoffmann, reforçou que a PEC da Segurança Pública — de autoria do governo Lula — foi pensada justamente para situações como a que atinge o Rio. “Os episódios desta terça-feira ressaltam a urgência da aprovação da PEC no Congresso. Ficou evidente a necessidade de articulação entre as forças de segurança no combate ao crime organizado”, disse.
Investigações e compromissos
O ministro Lewandowski reiterou que o governo federal mantém “cooperação total” com o Rio de Janeiro e que as forças federais seguem atuando em parceria com a Polícia Civil e a PM, por meio de operações conjuntas como a FICCO/RJ e a Operação Redentor.
“A missão é a cooperação total entre União e o Rio. Estamos empenhados em combater o crime de forma integrada e científica. Segurança pública não se faz com improviso, mas com inteligência e coordenação”, afirmou o ministro.



