A venda de empresas estratégicas reacende debate sobre perda de soberania e risco de encarecimento de serviços essenciais

Governadores de direita aceleram privatizações mesmo com estatais batendo recorde de lucros
Arte: Revista Focus

Enquanto o governo federal aposta em reestatizações estratégicas e no fortalecimento do papel do Estado, governadores de direita seguem em sentido oposto. 

Em estados como Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, a privatização tornou-se prioridade sob o argumento de equilibrar contas públicas, atrair investimentos e melhorar a eficiência dos serviços. 

Na prática, porém, o que avança é a entrega de empresas lucrativas e estratégicas à iniciativa privada, levantando questionamentos sobre soberania e sobre o impacto direto nas tarifas pagas pela população.

Esse processo, embora não seja novo, ganhou força em gestões estaduais alinhadas à agenda liberal. Companhias de energia, saneamento e até a gestão administrativa de escolas entraram no pacote de privatizações. 

A agenda enfrenta forte resistência de sindicatos, movimentos sociais e parte da oposição, que denunciam a ausência de consulta popular em decisões que afetam setores essenciais.

As justificativas apresentadas pelos governadores seguem a mesma lógica: estados endividados precisariam “enxugar a máquina” e “fazer caixa” com a venda de ativos. Para críticos, trata-se de uma política de curto prazo, que ignora o caráter estratégico dessas empresas. 

Muitas delas dão lucro e poderiam financiar políticas sociais, garantindo serviços a preços acessíveis. A consequência, segundo especialistas, é o risco de perda de controle sobre áreas vitais e maior vulnerabilidade da população diante dos interesses privados.

Venda de empresas públicas lucrativas contrasta com desempenho positivo e investimentos crescentes das estatais federais.

Lucros das estatais

O desempenho das estatais federais reforça esse contraponto. Em 2024, as 44 empresas ligadas à União lucraram R$ 116 bilhões, investiram R$ 96 bilhões e distribuíram R$ 100 bilhões em dividendos. Os dados foram apresentados pela secretária de Coordenação e Governança das Estatais do Ministério da Gestão, Elisa Leonel.

Ela destacou que as estatais não dependentes, que não utilizam recursos do Orçamento da União, aumentaram os investimentos em 44% no último ano e, apenas no primeiro quadrimestre de 2025, elevaram em mais 52% os aportes em relação ao mesmo período de 2024. O desempenho confirma a relevância dessas empresas para o desenvolvimento social e para a integração regional do país.

Eduardo Leite (PSDB-RS)
Revogou em 2019 a exigência de plebiscito para privatizações e abriu caminho para a venda da CEEE (distribuição, transmissão e geração), da Sulgás e da Companhia Riograndense de Mineração (CRM). Até 2021, cerca de 20 processos de desestatização já haviam sido encaminhados.

Ronaldo Caiado (União-GO)
Avança sobre estatais como Saneago, Celg GT, Iquego, GoiásGás, GoiásTelecom e Metrobus. Em 2022, a Enel Goiás foi vendida à Equatorial Energia por R$ 1,6 bilhão.

Romeu Zema (Novo-MG)
Defensor histórico das privatizações, tenta vender gigantes como Cemig, Copasa e Codemig. Enfrenta, porém, resistência na Assembleia Legislativa: a Constituição mineira exige plebiscito, e Zema busca aprovar uma PEC para retirar essa obrigatoriedade.

Ratinho Júnior (PSD-PR)
Criou em 2024 o programa “Parceiro da Escola”, que permite a privatização da gestão administrativa de até 204 escolas estaduais. Em consulta pública, 82 das 93 escolas que atingiram quórum rejeitaram a medida.

Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)
Autorizou a privatização da gestão administrativa de 143 escolas estaduais por meio de PPP. O processo, suspenso em 2024 pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, foi liberado pelo STF. Críticos apontam que a medida transfere funções essenciais da educação para a iniciativa privada.