Bolívia caminha para segundo turno entre candidatos de direita após 20 anos de esquerda no poder
Rodrigo Paz (PDC) e Jorge Quiroga (LIBRE), ambos de direita, avançam ao segundo turno e deixam o MAS, de Evo Morales e Luis Arce, em seu pior desempenho desde 2006. Leia revista completa

Após duas décadas de hegemonia da esquerda, a Bolívia assiste ao epílogo de uma era após o primeiro turno das eleições presidenciais, encaminhando-se para um segundo turno entre dois nomes da direita: Rodrigo Paz e Jorge Quiroga. Tal guinada indica uma redefinição no panorama econômico do país.
O senador Rodrigo Paz, 57 anos, representando o Partido Democrata Cristão, surpreendeu ao garantir sua vaga no segundo turno, contrariando todas as projeções eleitorais. Ele chega como o mais votado no primeiro turno, com 32,1% dos votos, superando o ex-presidente Jorge Quiroga, que obteve 26,8%.
O baixo desempenho dos candidatos do MAS, de Evo, revela o esgotamento da gestão Arce e a crise interna com “evistas”
Crise interna do MAS e perda de fôlego eleitoral
Especialistas apontam a administração de Luis Arce como um dos principais fatores para o resultado inesperado.
O atual presidente esgotou as reservas em dólares e manteve a política de subsídios a combustíveis, em um cenário de prolongada disputa com Evo Morales pelo controle do Movimento Ao Socialismo (MAS).
A divisão fragilizou a legenda e se refletiu nas urnas: Eduardo del Castillo obteve apenas 3,1% dos votos e o presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, 8,2%.
Paz e Quiroga possuem propostas convergentes, como a erradicação dos subsídios a combustíveis e a redução de impostos, além de anunciarem uma ruptura com o modelo estatal implementado pelo MAS sob a liderança de Morales. O segundo turno está marcado para 19 de outubro.
Para o ativista ambiental Juan Marcelo Castro, de Santa Cruz de La Sierra, “o país vive um estado de calma incomum após um processo eleitoral relativamente pacífico e supostamente transparente, apesar do número histórico de mais de 21% de votos nulos”.
Ele também teme que “a baixa qualidade dos candidatos à vice-presidência, Edman Lara (PDC) e Juan Velasco (LIBRE), que se atacam com ameaças, enfraqueça o processo supostamente democrático”.
Castro avalia ainda que o desempenho ruim do MAS representa uma “falta de reconhecimento” da liderança de Evo Morales, mas admite que “embora não estejam completamente perdidos, pode haver uma reorganização à vista até 2030”.
Quem são os candidatos
Rodrigo Paz Pereira, senador por Tarija, é filho de Jaime Paz Zamora, ex-presidente da Bolívia na década de 1990. Sua ascensão mistura discurso de renovação com herança política tradicional.
Alinhado ao setor empresarial de Santa Cruz de La Sierra, defende políticas econômicas ortodoxas e propostas de centro-direita, distanciando-se das agendas populares ou indígenas.
Jorge Fernando “Tuto” Quiroga Ramírez foi ministro da Fazenda em 1992 e vice-presidente da Bolívia em 1997. Em 2005, ficou em segundo lugar, atrás de Evo Morales.
Se vencer, promete romper relações com Venezuela, Cuba e Irã, mas admite manter a Bolívia nos BRICS pelo vínculo comercial com China e Índia. Também questiona a participação no Mercosul e sugere um acordo com Chile e Argentina para exploração conjunta do lítio. Inspirado no presidente argentino Javier Milei, promete usar uma “motosserra” para cortar gastos públicos.