Após quase quatro meses, Corte encerra oitivas com 31 réus; Kid Preto silencia, militares oferecem versões desencontradas e Moraes repreende tenente-coronel em farda


STF conclui interrogatórios sobre trama golpista com silêncio de Kid Preto e versões contraditórias de militares
Integrantes do grupo Kid Preto, acusado de articular ações golpistas, optaram por não responder às perguntas da PGR durante interrogatório no STF Foto: Divulgação/Exército

O julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) teve um dos momentos mais simbólicos nesta segunda-feira (29), com o interrogatório de integrantes do grupo autodenominado Kid Preto. Todas as oitivas foram transmitidas ao vivo. 

Apontados como parte do núcleo civil da tentativa de golpe de Estado, os réus optaram pelo silêncio ou deram respostas evasivas sobre os encontros com Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada e sobre o conteúdo dos documentos apreendidos. A sessão marcou a conclusão a fase de interrogatórios da Operação Tempus Veritatis.

Ao longo de quase quatro meses, foram ouvidos 31 réus, distribuídos nos núcleos 1 a 4 da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Todas as audiências foram realizadas por videoconferência.

A última oitiva: os Kid Preto

O destaque ficou por conta das oitivas do chamado “núcleo 3, realizadas no último dia de depoimentos, que envolvem o grupo civil apelidado de Kid Preto, composto majoritariamente por militares das forças especiais.

O influenciador João Victor Ferreira Oliveira, o principal integrante, invocou o direito ao silêncio diante dos questionamentos da PGR. 

Outros membros do grupo seguiram a mesma linha: evitaram responder sobre reuniões no Palácio da Alvorada ou o teor dos materiais apreendidos pela PF.

Em depoimentos subsequentes, o coronel Bernardo Correa Neto qualificou os encontros como meras “reuniões de amigos”, enquanto o general da reserva Carlos de Almeida Baptista Júnior descreveu o momento como um “monólogo” de Bolsonaro, sem conteúdo articulado ou ação planejada. 

Já o tenente‑coronel Marcelo Costa Câmara alegou que o chamado plano golpista era apenas um “cenário de inteligência militar”.

STF conclui interrogatórios sobre trama golpista com silêncio de Kid Preto e versões contraditórias de militares
Plenário do STF durante as oitivas de 31 réus acusados de participação na trama golpista; interrogatórios revelaram contradições, silêncio de investigados e o envolvimento de militares e civis próximos a Bolsonaro.
Foto: Antonio Augusto/STF

Militares no banco dos réus: sem farda e constrangimentos

Durante as sessões, o ministro Alexandre de Moraes exigiu que o tenente‑coronel da ativa Herbert Marques removesse a farda antes de depor, alertando que militares não deveriam comparecer uniformizados a audiências civis – episódio que provocou tensão durante a sessão. 

Na sequência, o major Rafael Martins de Oliveira fez referência ao “silêncio ensurdecedor do Exército” em relação aos acampamentos ilegais em frente a quartéis antes do 8 de janeiro.

O agente da Polícia Federal Frederico de Azevedo, também réu no processo, relatou que já atuou na segurança pessoal de Moraes em eventos oficiais, gerando constrangimento e ilustrando a complexa relação institucional.

Os interrogatórios evidenciaram o distanciamento entre versão pública e depoimentos, a dificuldade em explicar os documentos golpistas e o uso de silêncio como estratégia defensiva. Nas próximas etapas, o início da fase das alegações finais. 

Com informações da Agência Brasil.