Presidente reforça compromisso com a soberania dos povos, o multilateralismo e a construção de uma nova governança global

Lula no BRICS: falas do presidente marcaram o encontro com líderes e chefes de estado no Rio de Janeiro
Joédson Alves/Agência Brasil

Ao encerrar a Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou com jornalistas sobre os avanços políticos do encontro, a ampliação do bloco e a necessidade de uma nova ordem internacional. Em tom direto, Lula defendeu o fortalecimento do multilateralismo, criticou a tutela geopolítica das grandes potências e reiterou o papel estratégico do Brasil na mediação global. 

Com discursos firmes e repletos de posicionamento geopolítico, Lula protagonizou o encontro, realizado nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. O presidente brasileiro defendeu a construção de um mundo multipolar, criticou a estrutura atual da governança internacional e apresentou propostas concretas nas áreas de paz, meio ambiente, economia e saúde.

Na abertura da cúpula, no domingo (6), Lula afirmou que a diversidade do BRICS é uma ferramenta poderosa para a promoção da paz. “O BRICS é herdeiro do Movimento Não-Alinhado. Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está mais uma vez cerceada”, declarou. Ele também cobrou uma reforma urgente do Conselho de Segurança da ONU para incluir países da África, América Latina e Ásia como membros permanentes.

O presidente brasileiro aproveitou o palco internacional para criticar com veemência o que chamou de “genocídio em Gaza”, afirmando que “não podemos permanecer indiferentes ao assassinato indiscriminado de civis e ao uso da fome como arma de guerra”. Ele também defendeu uma solução negociada para a guerra na Ucrânia e pediu mais apoio internacional ao Haiti.

Na segunda-feira (7), Lula voltou a cobrar reformas na arquitetura internacional. “A gente está discutindo com profundidade a necessidade de mudança estrutural, inclusive no estatuto da ONU. Aquele mundo de 1945 ficou para trás”, afirmou. Em outro momento, reforçou a crítica à hegemonia global: “O mundo mudou. Não queremos mais um imperador.”

A agenda ambiental também esteve no centro das atenções. Lula destacou a importância da COP 30, que será realizada em Belém (PA) em 2025, e anunciou a criação do “Fundo Florestas Tropicais para Sempre”, com participação dos países do BRICS. O presidente ainda pressionou por mais financiamento climático e cobrou justiça ambiental para o Sul Global.

Outro ponto relevante foi a discussão sobre a desdolarização das transações entre países do bloco. Lula defendeu o uso de moedas locais, desde que com responsabilidade e coordenação entre os bancos centrais. “Ninguém determinou que o dólar tem que ser a moeda padrão do comércio global”, disse.

No encerramento da cúpula, o presidente classificou o encontro como “a mais importante reunião do BRICS já realizada” e reafirmou o papel do grupo como alternativa viável à atual ordem global. “Não queremos mais um mundo tutelado, não queremos mais guerra fria, não queremos mais desrespeito à soberania”, afirmou.

Abaixo, selecionamos 10 trechos das falas de Lula:

1. “Não podemos permanecer indiferentes ao genocídio realizado por Israel em Gaza, o assassinato indiscriminado de civis inocentes e o uso da fome como arma de guerra.”, reforçando a urgência de ação coletiva diante dos conflitos em Gaza  .

2. “O BRICS é herdeiro do Movimento Não‑Alinhado. Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está mais uma vez cerceada”, definindo o grupo como guardião de uma ordem global multipolar  .

3. “O mundo mudou. Não queremos mais um imperador.”, comentando ameaças tarifárias dos EUA, Lula afirmou que o mundo rejeita a hegemonia unilateral  .

4. “O mundo precisa encontrar um jeito de que nossas relações comerciais não precisem passar pelo dólar… obviamente, temos que ser responsáveis e fazer isso com cuidado. Nossos bancos centrais têm que discutir com os bancos centrais de outros países.”, ao defender a desdolarização gradual e coordenada entre os BRICS.

5. “É um novo jeito de a gente fazer o multilateralismo sobreviver no mundo… não queremos mais um mundo tutelado. Não queremos mais guerra fria. Não queremos mais desrespeito à soberania. Não queremos mais guerra.”, disse Lula em trecho emblemático de seu discurso de encerramento.

6. “A gente está discutindo com muita profundidade a necessidade de mudança estrutural, inclusive no Estatuto da ONU, para que a gente possa recriar alguma coisa com base nos acontecimentos geopolíticos de 2021, e não de 1945. Aquele mundo ficou para trás.”

7. “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito”.

O discurso de Lula no encerramento da cúpula sintetiza a mensagem política do encontro: o BRICS não é apenas um fórum econômico, mas uma alternativa concreta à hegemonia internacional. Ao destacar a soberania, a inclusão e o diálogo entre os povos, o presidente reposiciona o Brasil no centro da disputa por uma nova ordem mundial.

Com informações do Palácio do Planalto.