Trump não esperava vencer as eleições de 2016 e estava totalmente despreparado para governar. Ele aprendeu do seu primeiro mandato. Os novos ministros propostos parecem decididos a cumprir seu programa

'Quais são as intenções do Presidente Trump?', por James Green
Foto: Reprodução ‘X’/@POTUS

Durante a campanha eleitoral para presidência Donald Trump fez uma série de promessas populistas de direita tais como expulsar milhões de imigrantes não documentados, realizar grandes cortes de impostos, conter a inflação e reafirmar o poder dos EUA no exterior. Trump apresentou o resultado eleitoral como uma “vitória esmagadora”, embora a diferença entre seus votos e os de Kamala Harris tenha sido de apenas 1,6% do total. Também é importante destacar que foi pequena a vantagem de votos nos sete estados para o Colégio Eleitoral.

Desde sua eleição, analistas políticos debatem por que ele venceu. Foi devido ao aumento dos preços dos alimentos no governo Biden? Ou foi o racismo e a misoginia embutidos na sociedade americana, que não conseguia aceitar a possibilidade de eleger uma mulher negra. Ou simplesmente uma mudança conservadora para a direita, entre grandes setores da classe trabalhadora majoritariamente branca? A lista de possíveis razões é bem longa

No entanto, não há dúvida de que Trump consolidou uma base de apoio entre pessoas frustradas porque suas vidas não parecem ter melhorado significativamente nas últimas décadas, enquanto o fosso entre ricos e pobres é maior do que nunca. Utilizando notícias falsas e desinformação, ele mobilizou eleitores, direcionando sua frustração, raiva e ressentimento, proferindo discursos de ódio contra um conjunto de “outros”: imigrantes, pessoas de cor que se beneficiaram de programas de ação afirmativa, pessoas trans e universidades liberais, entre outros.

Independentemente do que ele diga em seu discurso de posse ou nas dezenas de ordens executivas que ele assinou horas depois de se tornar presidente, até que ponto ele realmente cumprirá suas promessas eleitorais? Os ideólogos extremistas de direita em seu governo realizarão a deportação de 11 milhões de imigrantes sem documentos como ele prometeu, ou Trump apenas anunciará algumas medidas dramáticas, como seu famoso muro na fronteira, que nunca serão totalmente implementadas?

Sobre a inflação, ele já admitiu em uma entrevista à revista Time: “Eu gostaria de reduzi-los [os preços]. É difícil reduzir as coisas depois que elas aumentam. Você sabe, é muito difícil”. Economistas apontam que se ele realizar deportações em massa, haverá uma crise na produção de alimentos por causa da falta de mão de obra agrícola de trabalhadores, em sua maioria, sem documentos, o que alimentará a inflação.

Isso vale para sua promessa de implementar tarifas sobre produtos importados, o que também aumentará os preços. Se a situação econômica piorar nos próximos dois anos, corroerá o apoio de sua base? Ou estas pessoas continuarão a apoiá-lo? Trump está apenas fazendo muito barulho para agradar sua base, mas na prática recuará para posições menos radicais?

Trump não esperava vencer as eleições de 2016 e estava totalmente despreparado para governar. Ele aprendeu do seu primeiro mandato. Os novos ministros propostos parecem decididos a cumprir seu programa. Eles serão apoiados por bilionários e pelos barões do Vale do Silício das mídias sociais. Estes estão interessados ​​em grandes cortes de impostos para os ricos, uma internet descontrolada para espalhar suas notícias falsas, a desregulação do controle sobre as grandes empresas e outras medidas que aumentarão as suas riquezas. Trump também prometeu usar o Departamento de Justiça para perseguir seus inimigos e selecionou pessoas que estão dispostas a usar o governo para minar o Estado de Direito.

É possível que também haja muitos resultados negativos possíveis para o Brasil. Um aumento nas tarifas prejudicará o comércio com o segundo maior parceiro comercial do Brasil, especialmente no setor de agronegócio. O aliado de Trump, Elon Musk, tem uma vingança pessoal contra Alexandre de Moraes por sua campanha contra notícias falsas e possivelmente vai convencer Trump de usar o poder do Estado contra o Brasil para este fim. A extrema direita, liderada por Eduardo Bolsonaro, lançou uma campanha internacional nos Estados Unidos e na Europa alegando que o Brasil é uma ditadura autoritária, uma acusação planejada para isolar o governo de Lula internacionalmente.

Quer ele cumpra totalmente as suas promessas eleitorais ou tenha que recuar, sua eleição é uma ameaça à democracia nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo.

James N. Green é professor titular emérito da Brown University e Presidente do Washington Brazil Office.