Para a economista e assessora na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Lígia Toneto, a resposta é sim.  “Quem não vê melhorias não quer olhar para os números por interesses próprios”

Para a economista e assessora na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Lígia Toneto, a resposta é sim.  “Quem não vê melhorias não quer olhar para os números por interesses próprios”
Lançamento do Programa Acredita, do Governo Federal, em 2024. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O terceiro ano do quarto mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva traz à tona os mesmos embates do início da gestão até agora. Para muitos analistas e boa parte da imprensa, dois brasis coexistem, países paralelos que caminham em direção a lados opostos. 

O Brasil dos números, apresentados pelo governo federal até aqui, conta com o combate histórico da extrema pobreza, criação recorde de empregos, recuperação do PIB, e a organização das contas públicas do país. Já o Brasil do poder do mercado, que tem na figura de grandes empresários e na institucionalização de parte da imprensa como porta-vozes, este ainda se recusa a aceitar e celebrar qualquer avanço do país. 

Esta divergência de cenários tem causa e efeitos. E sua motivação nem sempre se limita às questões econômicas. É o que explica a economista Lígia Toneto, assessora na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. 

“O principal fator que separa o que é esse Brasil dos números deste movimento que aponta que o Brasil vai quebrar é quem prioriza cada um dos indicadores de quem deixa propositadamente de olhar para eles”, diz. 

“Se olharmos os dois primeiros anos do governo Lula 3, a gente vê que a Economia Brasileira cresceu 7% no acumulado, foi gerado 3,5 milhões de empregos, no menor patamar de desemprego da história, temos o combate à miséria, combate à desigualdade pelo aumento da renda do trabalhador. Então, os indicadores são bastante positivos para duvidar do crescimento do país”. 

Para a economista, a ameaçadora voz do mercado usa a política fiscal do governo para criar uma sensação de insegurança, mas este argumento também não se sustenta.  “Estruturalmente a situação fiscal do país está muito melhor do que estava no governo anterior. Teremos em 2024 um déficit de apenas 0,1%, muito melhor do que o resultado apontado pelo mercado de déficit de 1%. Mas é importante lembrar que nos dois primeiros anos grande parte do trabalho foi para reorganizar as receitas e cobrir o rombo deixado por Bolsonaro”

Impostos dos alimentos

Uma das grandes preocupações da Fazenda para 2025 é não deixar que tantas melhorias já realizadas não sejam anuladas pela alta dos alimentos. O fato, por sinal, é um dos que mais geram insatisfação da população em relação à gestão Lula 3. Lígia Toneto concorda que o problema existe e demandará uma série de iniciativas para não deixá-lo afetar sobretudo as famílias de baixa renda. 

Uma medida estrutural para sanar o problema já foi desenhada com a proposta de Reforma Tributária aprovada pelo Senado: a redução ou exclusão dos impostos em todos os produtos da cesta básica, incluindo carnes. 

“Quando a reforma enfim entrar em prática causará um grande impacto na vida do brasileiro. Mas é importante lembrar que a alta dos alimentos tem sido causada também por fatores externos como mudança climática. Neste ano tivemos, por exemplo, as enchentes no Rio Grande do Sul, que é um grande produtor de alimentos do país, e isso contribuiu para esse aumento”. 

Além das medidas previstas na Reforma Tributária, outro desafio apontado por Lígia Toneto é aumentar o poder de compra das famílias – com a alta do dólar e o aumento do preço dos alimentos, o salário do trabalhador ainda não tem rendido como o esperado. 

Justiça Fiscal 

Um dos grandes trunfos do Ministério comandado por Fernando Haddad para melhorar a imagem da economia do país está no próprio modelo de Reforma Tributária proposto pelo governo.  “O fato de a reforma ter propostas mais estruturais irá trazer uma justiça fiscal maior ao país. A isenção de impostos na cesta básica é um dos pontos cruciais, mas não o único. Também há o cashback, que devolverá dinheiro para famílias de baixa renda que estiverem em dia com a Receita. Esses são pontos cruciais para que o país tenha mudanças impactantes e que prioriza quem ganha menos”.

Tais dados, reconhece Lígia, ainda parecem à margem da população, pouco divulgados, o que escancara um outro problema: a propagação de notícias falsas como a tentativa de emplacar a ideia de que Haddad está criando mais taxas e prejudicando a população.  “A criação dessas notícias, desses memes, têm dois lados: o primeiro é o de tentar enfraquecer a agenda econômica do governo federal, com fake news. Isso é, sim, um fato que preocupa sobretudo com o anúncio do fim de checagem dos fatos em algumas das grandes plataformas de redes sociais”, alerta a economista. 

“Outro lado é a criação de uma narrativa de ataques ao governo vinda de uma classe que nunca tinha pago imposto antes. O fato de o governo anunciar que iria taxar offshore (empresa de um país que realiza negócios em outro) e fundo exclusivo, houve gente poderosa que reclamou. Por fim, não há nada disso de taxar tudo. O que existe é recompor a base de arrecadação e fazer com que quem antes não pagava imposto algum comece a pagar. Vem daí essa voz do mercado que tenta deslegitimar o trabalho do governo ”.

Erro de comunicação

Em entrevista à GloboNews na semana passada, o ministro Fernando Haddad afirmou que houve graves falhas de comunicação do governo no anúncio do pacote fiscal anunciado ano passado e que foi criticado pelos editoriais de alguns dos principais. Esses ruídos na comunicação, segundo a economista, também são a causa da dificuldade do governo de conseguir apoio em categorias formadas por trabalhadores informais, como motoristas de aplicativo, entregadores, entre outros. 

Lígia lembra que, para além da precarização de atividade com grande contingente de mão de obra, é preciso reiterar o que a atual gestão tem feito por ele. Lígia é uma das idealizadoras, por exemplo, do programa Acredita 

“Precisamos fazer com que estas categorias se sintam contempladas pelo nosso governo e isso passa por uma adequação na linguagem para se comunicar com elas.Existe uma série de projetos do governo que podem confirmar essas melhorias como o Acredita, maior programa de crédito para pequenos negócios já criado no país. Ele é uma escadinha de crédito que tem capacidade diversas faixas de rendimento. Mesmo para quem não tem como oferecer garantia, o Acredita oferece esses benefícios. É literalmente o governo dizendo a esses trabalhadores que acredita neles”.

Afinal, o Brasil melhorou? Os números mostram que sim
Ligia Toneto, economista e assessora na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda: “Quem não vê melhorias não quer olhar para os números por interesses próprios” Foto: Reprodução