Depois de passar a boiada, Bolsonaro tenta apagar suas digitais na crise climática
O “passar a boiada” foi dito durante uma reunião entre ministros de Bolsonaro, em abril de 2020
Jair Bolsonaro tem aproveitado cada vez mais o gozo da impunidade para tentar apagar as digitais que deixou em inúmeros crimes e no processo de destruição políticas públicas fundamentais para a qualidade de vida dos brasileiros, como as voltadas à preservação ambiental. Depois de “passar a boiada”, com o desmonte da estrutura de fiscalização e o incentivo a atividades criminosas em áreas de proteção, o ex-presidente, agora, conta com o apoio dos seus aliados no agronegócio para botar fogo no país, com o intuito egoísta e irresponsável de atingir o governo Lula, a despeito dos graves danos à natureza e à saúde da população.
Até o momento, a Polícia Federal instaurou mais de 50 inquéritos para identificar e responsabilizar os autores do que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, definiu como “terrorismo ambiental”.
Ao longo dos quatro anos de seu desgoverno, o incendiário da extrema direita perseguiu ambientalistas e pesquisadores. Um dos primeiros alvos foi o então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), Ricardo Galvão, demitido do cargo após fazer um alerta sobre o aumento do desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro também promoveu o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente, com uma drástica redução do orçamento da pasta e a não reposição do quadro de funcionários de diversos órgãos ambientais.
As consequências não poderiam ser diferentes: houve um aumento de 212% nas invasões e de 125% nas atividades do garimpo ilegal em terras indígenas. O desmonte também resultou em uma redução de quase 40% das multas por desmatamento na região amazônica e permitiu a maior alta nas emissões de gases estufa em 19 anos no país, de acordo com relatório do Observatório do Clima, divulgado no início de 2023
Relembre as falas de Salles
O “passar a boiada” foi dito durante uma reunião entre ministros de Bolsonaro, em abril de 2020. Na ocasião, Salles disse que a pandemia de covid-19 era uma oportunidade para o governo “passar a boiada”, já que o foco naquele momento era a questão sanitária. A declaração foi entendida como a oportunidade para o governo enfraquecer os mecanismos existentes de controle ambiental.
“Estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid-19, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério do Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo”, disse na ocasião.
Salles ocupou o Ministério do Meio Ambiente entre 2019 e 2021, quando deixou a pasta em meio a denúncias de facilitação de exportação de madeira ilegal. Seu nome ganhou destaque nas redes sociais nesta semana após surgir boatos de que seu nome seria indicado pelo PL para chefiar a Comissão de Meio Ambiente na Câmara dos Deputados.
O ex-ministro carrega no currículo louros como a condenação em primeira instância por fraude ambiental em São Paulo e a perseguição a servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Durante sua gestão, outras crises foram enfrentadas, como o aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a paralisação do Fundo Amazônia, o menor valor em multas ambientais em duas décadas durante sua gestão, investigação da PF por tráfico de madeira e mais oito crimes, 56 mil quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia e no Cerrado e a invasão, destruição e genocídio na Terra Indígena Yanomami.