Carcaça à venda

Os sinais da fome e da miséria se alastram pela periferia de São Paulo. Supermercados se adaptam aos novos tempos e vendem restos de frios, carcaça e pele de frango. A culpa é de Bolsonaro

 

Os sinais de agravamento da miséria crescem por todo o país, mas estão mais evidentes na periferia de São Paulo, mostrando quanto o povo está pagando pelo desgoverno Bolsonaro. Na quarta-feira, 14, a Folha de S.Paulo trouxe reportagem da Agência Mural, mostrando que supermercados estão comercializando  pontas de frios —bandejas com restos de queijo e presunto—, carcaça e pele de frango.

No Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, vende-se o chamado “feijão fora do tipo”, composto por 70% de grãos inteiros e 30% feijão partido. A venda é autorizada desde que esteja identificado, “cumprindo as exigências de marcação e rotulagem”. Ainda assim, o produto não é barato. O custo é de R$ 8,48.

No Grajaú, também na zona sul da capital, mercados e açougues estão vendendo carcaça e pele de frango em sacos plásticos e bandejas. No mercado Fonte Nova, em Guarulhos, na Grande São Paulo, uma caixa de leite varia de R$ 8 a R$ 10. Por ali, subprodutos como soro de leite e misturas condensadas se tornaram a alternativa mais barata, ao custo de R$ 7.

Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) mostram que, atualmente, 33 milhões de brasileiros passam fome e 125 milhões – mais da metade de habitantes do país – enfrentam algum grau de insegurança alimentar. Levantamento do Datafolha aponta que 85% dos entrevistados diminuíram o consumo de algum alimento em 2021. Desse total, 67% reduziram o consumo de carne vermelha.

“Falta comida no prato, a procura de emprego só aumenta. O povo merece respeito”, critica o senador Rogério Carvalho (PT-SE). Outro colega de bancada do PT também responsabiliza o Palácio do Planalto. “A disparada da fome e da inflação no governo Bolsonaro obrigaram a população a mudar os hábitos alimentares”, lamenta o senador Humberto Costa (PT-PE). “Os brasileiros estão comendo menos e comendo pior”.

Com mais de 15 milhões passando fome no Brasil, cresce o número de pessoas que se alimentam de produtos como carcaça e pele de frango comprados ou obtidos por doação. “Comer pé, carcaça, aqui em casa tá sendo luxo quando tem. Nem ovo a gente pode comprar mais, porque tá caro”, relata Ionara Jesus, moradora de São Paulo (SP), à reportagem da Agência Mural.

Jorge Toquetti, diretor-geral da ONG Banco de Alimentos, diz que a ONG aproveita alimentos que iriam para descarte por terem perdido características comerciais, como frutas deixadas de lado em supermercados.

Rodrigo Afonso, diretor-executivo da ONG de combate à fome Ação da Cidadania, diz que o consumo de produtos comumente descartados, como carcaça e pele de frango, já fazia parte da rotina de dezenas de milhões de brasileiros, que recorrem a esse tipo de alimentação para colocar alguma proteína na mesa. •