Lula, o preferido do povo
Mas o líder da extrema-direita se recupera, de acordo com os últimos levantamentos dos institutos de pesquisa. A reprovação do atual governo, contudo, ainda é muito alta. Inflação alta e desemprego são um peso para Bolsonaro
As duas pesquisas mais recentes, feitas pelos institutos Ipespe e Quaest, ajudam a entender o panorama atual da sucessão presidencial. De acordo com o levantamento do Ipespe, realizado em parceria com a XP Investimentos, entre 2 e 5 de abril, com 1 mil entrevistas telefônicas, houve um ligeiro aumento na aprovação ao governo, mas dentro da margem de erro, de 3,2 pontos percentuais. Mas é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que continua liderando a corrida presidencial, com 44%.
O levantamento Quaest aponta que 62% dos brasileiros consideram que a economia do Brasil piorou no último ano. E para 59%, houve piora na capacidade de pagar as próprias contas. Quase a totalidade dos brasileiros (98%) afirma que houve aumento dos preços nos últimos meses, e 74% acreditam que os preços irão aumentar no próximo período. Segundo o Ipespe, 63% dos brasileiros consideram que a economia do país está no caminho errado. O índice de rejeição ao presidente continua muito alto: 61% não votam nele de jeito nenhum.
Pelo Ipespe, comparado ao final do ano, o líder da extrema direita brasileira tem a aprovação de apenas 29%. A reprovação segue em 54%, o mesmo patamar desde agosto de 2021. Já a pesquisa Quaest, feita em parceria com a Genial Investimentos entre 1º e 3 de abril, com 2 mil entrevistas domiciliares, aponta para aumento de 7 pontos percentuais na aprovação ao governo, em relação a novembro do ano passado. Agora, Bolsonaro chega a 26% – um número acima do limite da margem de erro de 2 pontos. No mesmo período, a reprovação ao seu governo caiu 9 pontos percentuais e agora é de 47%.
Nos cenários de intenção de voto, os dois institutos apontam para um aumento nas intenções de voto em Bolsonaro no primeiro turno. Ambos os institutos mensuraram cenários sem o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Segundo o Ipespe, houve aumento de 4 pontos nas intenções de voto em Bolsonaro, que chega a 30%, contra 44% de Lula. Ciro Gomes, que cresceu 2 pontos, chega a 9%, seguido por João Doria Jr. (3%), Simone Tebet (2%) e André Janones (1%).
De acordo com análise publicada pelo instituto, que considera o cruzamento de microdados – indisponíveis no relatório da pesquisa, o crescimento do atual presidente é resultado de dois efeitos distintos: cerca de 2,3 pontos resultam da melhora de sua avaliação de governo e 1,5 ponto da saída de Moro e Eduardo Leite – não considerado no cenário testado pelo instituto.
A pesquisa Quaest também permite entender a possível melhora no desempenho de Bolsonaro. No cenário que ainda inclui Sergio Moro, Bolsonaro cresceu 3 pontos percentuais – chegando a 29% das intenções de voto. Sem o ex-ministro na disputa, o atual presidente alcança 31% das intenções de voto, 5 pontos percentuais a mais que a pesquisa anterior, variação acima do limite da margem de erro. Lula tem 45% das intenções de voto no cenário sem Moro, e 44% no cenário que inclui o ex-juiz – mesmos patamares do levantamento anterior.
De acordo com a pesquisa, a melhora na avaliação de Bolsonaro se dá principalmente entre seus eleitores do segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Entre eleitores de Haddad, quem declara ter votado branco/nulo ou ter optado pela abstenção, não houve mudança significativa no percentual de aprovação. Entre seus antigos eleitores houve aumento de 39% de aprovação para 52% desde novembro de 2021. A melhora da avaliação entre os beneficiários do Auxílio Brasil — de 13% para 24% desde novembro — aponta para uma recuperação inclusive em parte do eleitorado popular que optou por Bolsonaro naquele pleito.
Quando questionados sobre a preferência de vitória nas eleições de 2022, 63% dos eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2018 dizem preferir mais uma vitória do atual presidente – em novembro eram 48%. No mesmo período, caiu de 24% para 15% a preferência por “nem Lula, nem Bolsonaro” no mesmo segmento, enquanto oscilou de 21% para 18% a preferência pelo líder petista.
Outros fatores são importantes para o próximo período. Embora o interesse pelas eleições seja um dos maiores da história e uma parcela significativa dos eleitores já opta entre Lula ou Bolsonaro, ou se prepara para fazer tal escolha em um cenário altamente polarizado, é alta a taxa de eleitores indecisos no cenário espontâneo.
Quando não é apresentada uma lista de candidatos ao entrevistado, 46% do eleitorado, segundo a Quaest. Outro ponto importante. Mesmo com melhora na aprovação, Bolsonaro segue com altíssimo índice de rejeição eleitoral: 61% do eleitorado segundo ambos os institutos. Em comparação, Lula não seria votado por 42% do total, segundo a Quaest, e por 43%, para o Ipespe.
Os dados corroboram com as recentes análises do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo. A alta rejeição eleitoral e a insatisfação dos brasileiros com o cenário econômico são os dois grandes empecilhos para Bolsonaro. •