PT cobra investigação sobre crime hediondo em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. “Não podemos mais aceitar política de segurança pública que dá medo e insegurança na população”, critica Benedita da Silva

 

Anestesiada pela violência gratuita e diária, a mídia anunciou no início da semana mais uma ação mortal do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Complexo do Salgueiro, comunidade de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Nove corpos foram encontrados na manhã de segunda, 22. Os mortos foram retirados de um manguezal, no bairro das Palmeiras.

Segundo relatos de moradores, durante a ação policial promovida pelo Bope houve tiroteios entre policiais militares e traficantes. Na manhã de domingo, 21, uma idosa foi atingida no braço por uma bala perdida e o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, do 7º BPM, acabou morto.

A resposta à morte do sargento, foi o massacre. Ex-governadora do Rio de Janeiro, a atual deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) reagiu indignada. “Não podemos mais aceitar uma política de segurança pública que dá medo e insegurança na população. Onde polícia e bandido parecem adotar o mesmo comportamento fora da lei”, criticou.

A chacina do Salgueiro mobilizou o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos. Segundo o UOL, o órgão fez um apelo nesta terça por investigações independentes do caso. “Nosso escritório pede ao Ministério Público que conduza uma investigação independente, completa, imparcial e eficaz sobre essas mortes, de acordo com padrões internacionais”, afirmou a porta-voz Marta Hurtado.

Presidenta nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) também cobrou apuração de responsabilidades. “Mais uma chacina no Rio, mais um episódio de truculência, mais uma vez numa região onde vivem trabalhadores, negros e pobres na maioria. Até quando vamos tratar como se fosse normal? O povo não merece violência, o povo quer e precisa de atenção do Estado”, defendeu.

Em nota, o PT do Rio também cobrou responsabilidades. “Mais uma vez a política de segurança genocida do Estado do Rio de Janeiro mostra a sua face”, aponta a Executiva Estadual. “De acordo com relatos de moradores, o que houve foi uma chacina, já que a polícia executou e torturou as vítimas”. Segundo o partido,  foi o mesmo modo de atuação empregado no Jacarezinho durante operação que deixou 28 mortos, em maio deste ano.

“O PT-RJ repudia essas ações e cobra esclarecimentos urgentes da Justiça sobre as possíveis violações de direitos humanos praticados pelos agentes públicos nas comunidades. Nosso povo quer viver e viver com segurança e dignidade. Chega de violência e extermínio nas favelas do Rio!”, diz a nota.

A chacina de Salgueiro é uma afronta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que limitado operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro desde junho do ano passado até o fim da pandemia da Covid-19. Ainda assim, 766 pessoas morreram em ações da polícia em favelas no estado, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.

Em 5 de junho de 2020, entrou em vigor a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), instituída provisoriamente pelo ministro Edson Fachin. A decisão do STF era direta e sem meias interpretação: “Sob pena de responsabilização civil e criminal, não serão realizadas operações policiais durante a epidemia do covid-19, salvo em hipóteses absolutamente excepcionais”, diz o despacho de Fachin. A decisão da Suprema Corte vem sendo ignorada pela polícia.