A derrota estratégica de Bolsonaro
O Brasil atingiu, esta semana, a fantástica marca de mais de 100 milhões de pessoas completamente imunizadas contra Covid-19, o que representa cerca de 47% da população. Com esse número, o povo brasileiro impõe uma decisiva derrota ao negacionismo de Bolsonaro.
Isso porque a estratégia central de Bolsonaro na condução da pandemia foi o boicote declarado e deliberado às medidas prudenciais recomendadas pela medicina, como o uso de máscaras e o distanciamento social e a própria vacina, que ele chamou de “vachina”. Importante relembrar que o presidente negou ofertas de compra reiteradas vezes, conforme revelou a CPI da Covid. O desprezo de Bolsonaro ao imunizante é tamanho que ele chegou a declarar que quem se vacinasse viraria jacaré ou jegue. E, até hoje, segue se recusando a tomar a vacina e desincentivando a campanha de imunização em massa.
Mas, não foi só. Seu governo tentou promover negociatas documentadas na compra de vacinas, enquanto o Planalto obstruía a compra de imunizantes reconhecidamente eficazes e mais baratos. Ele atuou ainda como promotor do vírus e trabalhou para que pessoas se contaminassem o mais rápido possível para adquirirem naturalmente a chamada imunidade de rebanho. Para isso, promoveu medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, como a cloroquina e a ivermectina, e não só condenou o uso de máscaras e o distanciamento social, como causou aglomerações e boicotou e ameaçou as iniciativas de estados e municípios na contenção da expansão da pandemia.
O resultado trágico dessa estratégia negacionista e genocida do governo federal: mais de 600 mil vidas perdidas para a doença. Mas a derrota de Bolsonaro é profunda. Apesar de todo o empenho continuado em negar a gravidade da pandemia, a ampla maioria da população segue se vacinando e utilizando máscaras e álcool gel e praticando o distanciamento social para se proteger contra a Covid-19.
Outro ponto que precisa ficar claro é que o negacionismo de Bolsonaro não é só com a pandemia. Seu governo sempre promoveu a chamada “guerra cultural”, que tem como alvo prioritário as universidades públicas e as instituições voltadas para a produção científica. O Planalto está desmontado o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações com a retirada de R$ 600 milhões da pasta e quer avançar também sobre o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o que foi recentemente impedido por lei.
Esse desmonte de áreas estratégicas vai custar caro às futuras gerações. É impossível, no século 21, que o país volte a se reindustrializar, no contexto da indústria 4.0, sem ciência, sem inovação e sem avanços tecnológicos. O 5G, por exemplo, é uma tecnologia disruptiva e não apenas incremental, que transmite 200 vezes mais dados que o 4G e em ritmo mais acelerado. Esse novo padrão tecnológico impactará decisivamente o setor de serviços, da indústria e da agricultura. O país deveria estar se preparando para esta transição digital, que exige ainda mais investimentos em educação, pesquisa, ciência e tecnologias inovadoras.
Esse é um dos motivos para que, além da recessão, já esteja na pauta o grande desafio na geração do emprego e do trabalho, que não pode ser mais apenas um subproduto da política econômica, mas que precisa estar no centro das novas políticas públicas.
O governo Bolsonaro promove uma antipolítica pública de desmonte amplo, profundo e acelerado de áreas estratégicas e portadoras de futuro, que vai da educação infantil, ao não cumprir as metas de acesso planejadas pelo Plano Nacional de Educação, à pós-graduação, que padece com intervenções desqualificadas na comissão científica da Capes.
Felizmente, todo esse negacionismo terraplanista de Bolsonaro está sendo parcialmente derrotado pelo povo. Hoje, 53% dos brasileiros consideram o governo péssimo. Além disso, todos aqueles que se vacinaram disseram não a Bolsonaro. E poderão dizer não novamente nas urnas, nas eleições de 2022.
Esses 100 milhões de brasileiros expressam a vitória da pesquisa, da medicina baseada em evidência científica e do SUS. E também impõem também uma derrota estratégica do governo, logo promovendo uma vitória histórica do povo brasileiro.