As últimas pesquisas divulgadas pelos institutos de pesquisa de opinião pública evidenciam o impacto na renda no que diz respeito tanto à avaliação do governo quanto às intenções de voto para as eleições presidenciais de 2022. Tratamos deste cenário no boletim de número 11 do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, divulgado em 21 de julho,

Neste artigo, aprofundamos essa análise.

Desde dezembro de 2020, o segmento com renda de até 2 salários mínimos, que compõe a base da pirâmide social brasileira, vem aumentando paulatinamente a reprovação ao governo — a soma dos que avaliam o governo de Jair Bolsonaro como ruim ou péssimo. Se, por um lado, durante o segundo semestre do ano passado, houve considerável redução da reprovação neste segmento, possivelmente, devido ao auxílio emergencial, na virada do ano, os índices voltaram aos patamares pré-pandêmicos.

É possível afirmar que boa parte da reprovação ao governo de Jair Bolsonaro se explica pela opinião deste segmento. Segundo a última pesquisa Datafolha, é justamente nessa faixa de renda que o governo federal tem a menor aprovação: 21%. Nos outros segmentos, a aprovação é significativamente maior, 34% entre os que recebem entre 5 e 10 salários mínimos — R$ 5.500 a R$ 11.000 e 32% entre os com renda familiar mensal maior que 10 salários mínimos — R$ 11.000.

Neste caso, é possível também afirmar que, além de reprovarem o governo, os brasileiros de menor renda tem uma fortíssima tendência de votar em Lula nas eleições presidenciais de 2022. O ex-presidente lidera com muita folga já no primeiro turno, com um desempenho muito mais fraco de Bolsonaro. Há, praticamente, uma sobreposição entre o número de brasileiros desta faixa de renda que declaram voto em Lula e que reprovam Bolsonaro. Os números são de 57% e 54%, respectivamente, segundo o Datafolha. Desde que Lula tornou-se elegível, há evidente aumento paulatino da intenção de voto neste segmento.

É uma situação bastante diferente do que ocorre em outros segmentos que também reprovam Bolsonaro. No caso da faixa de renda de 2 a 5 salários mínimos — R$ 2.200 a R$ 5.500 —, Lula e Bolsonaro estão empatados na margem de erro em primeiro turno: 36% para o ex-presidente e 33% para o atual — e a reprovação ao governo é de 47%, segundo o Datafolha. Vale ressaltar, no entanto, que na simulação de segundo turno, Lula venceria por 48% a 40% contra Bolsonaro.

Outra situação peculiar ocorre no segmento com renda maior que 10 salários mínimos — R$ 11.000. É nele que há o maior índice de reprovação do governo: 58%. Isso não impede, no entanto, que Bolsonaro lidere a simulação de primeiro turno e que empate com Lula no segundo turno (ambos com 40%). Isso se explica tanto por um número relevante de pessoas desta faixa de renda que ainda optam por Bolsonaro, mas também por uma divisão da intenção de voto entre Lula, Ciro, Doria e outros — sendo que é justamente neste segmento que os nomes de centro e centro-direita apresentam melhor desempenho.

Nos próximos artigos, analisaremos os dados de outros segmentos que também ajudam a explicar tanto a reprovação e aprovação ao governo Bolsonaro, quanto os dados eleitorais mais recentes: segmentação por região, por sexo, idade e raça/cor.

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