A visita sigilosa do diretor da CIA ao Planalto surpreende e recorda o passado. Sem divulgação, o emissário do governo dos Estados Unidos veio ao Brasil para reunião com governo. A agenda foi mantida em segredo e sem divulgação prévia

 

O novo chefe da CIA, William Burns, chegou esteve em Brasília na quinta-feira, 1º, para realizar reuniões com autoridades do governo brasileira. A visita do primeiro emissário do governo de Joe Biden ao Brasil foi mantida em sigilo e não teve divulgação prévia. Segundo a Folha de S.Paulo, o comboio com Burns e o embaixador americano no país, Todd Chapman, chegou ao Palácio do Planalto no meio da tarde.

A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), cobrou transparência do governo. “Por que um presidente da República recebe um diretor do órgão de inteligência americana?”, questionou. “O correto não seria uma visita do Biden? De presidente para presidente? O que a CIA quer com Bolsonaro e vice-versa?”.

Na noite de quinta, em vídeo divulgado por um site de apoio ao governo, Bolsonaro confirmou o encontro com Burns e citou a atual situação de crise em outros países da América do Sul. “O interesse do Brasil por alguns poucos países é enorme. Alguns países dependem de nós, do que produzimos aqui. E esses países pensam 50, 100 anos à frente. E nós, aqui, infelizmente, quando muito, pensamos poucas semanas ou poucos dias depois”, disse, em conversa com apoiadores.

“Não vou dizer que isso foi tratado com ele [Burns], mas a gente analisa na América do Sul como estão as coisas. A Venezuela a gente não aguenta falar mais, mas olha a Argentina. Para onde está indo o Chile? O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales e, mais ainda, a presidente que estava lá no mandato tampão [Jeanine Añez] está presa, acusada de atos antidemocráticos. Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?”, disse Bolsonaro.

Segundo as agendas dos ministros Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, e Augusto Heleno, da Segurança Institucional, haveria um jantar com o comandante da agência de informações dos EUA, na própria quinta-feira. A agenda de Bolsonaro não registrou informação sobre reunião ou jantar com a autoridade americana. Burns é diplomata de carreira e foi escolhido para comandar o órgão de inteligência norte-americano pelo próprio Biden.

O vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, disse à Folha não saber detalhes da agenda do chefe do Serviço Secreto dos Estados Unidos no Brasil, mas classificou a visita como normal. “São contatos com os contrapartes. É normal, chefe de serviço de inteligência, isso não é problema. É troca de informações. Duas nações amigas, não é problema”, afirmou.

A surpresa de petistas não é sem razão. Os Estados Unidos desempenharam um papel profundamente indigno em duas ocasiões na história recente do Brasil. Atuou de maneira ativa e desestabilizadora no Golpe de 1964 que levou à destituição do presidente João Goulart e também tiveram uma atuação comprometedora durante o governo Dilma Rousseff. Não apenas espionando a Petrobrás e a presidenta da República, mas também como instrumento de cooptação de procuradores da República de Curitiba e fomentando troca de informações fora dos canais oficiais com a Operação Lava Jato, que não apenas resultariam na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também na deposição do governo em 2016. O governo Biden deve explicar o que está tratando com o governo Bolsonaro e qual a razão do sigilo.