Calvo do Campari e a violência de gênero: quase 4 milhões de mulheres já sofreram agressões em 2025
Dados oficiais mostram que os casos de violência crescem cada vez mais, do discurso de ódio nas redes ao feminicídio de fato

Entre o final de novembro e o início de dezembro, três casos de violência de gênero tomaram conta dos noticiários brasileiros. O de maior repercussão envolve Thiago Schutz, também conhecido como “Calvo do Campari”, que agrediu a namorada com chutes e tapas dentro da casa do influenciador.
Schutz foi preso em flagrante, mas solto logo em seguida. O fato ocorreu em 29 de novembro. No mesmo dia, um homem atropelou e arrastou a ex-namorada com o carro por 1 km por não aceitar o término. A violência resultou na amputação das duas pernas da vítima. O agressor está preso.
Um dia antes, duas servidoras do Rio de Janeiro morreram após um ataque a tiros no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Celso Suckow da Fonseca, no Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro. O autor foi João Antônio Miranda Tello Ramos, colega de trabalho que, após o ataque, tirou a própria vida. Segundo apurações iniciais,o crime foi precedido por episódios de ameaça e por uma explícita dificuldade do agressor em aceitar ser chefiado por uma mulher.
Os três casos recentes endossam os números da pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, feita pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com centro de formação política e de produção de conhecimento do PT e o Sesc São Paulo.
Segundo a iniciativa, houve um aumento, na última década, dos relatos espontâneos de violência sofrida entre mulheres – de 18% em 2010 para 23% em 2023. Quando estimuladas com alguns exemplos de situações de violência física, moral, sexual, patrimonial, psicológica, os relatos aumentam para 50%.
O cenário piora quando se constata que a maioria das vítimas (71%) não denunciou oficialmente o episódio e que 58% não pediram ajuda diante dessa situação. Corrobora para isso o fato de que 2 a cada 10 mulheres que admitiram ter sofrido violência foram orientadas a não fazer denúncia (21%).
A violência psicológica, pouco reconhecida espontaneamente, chegou a 43% quando estimulada. Na sequência, a violência moral (37%), a sexual (23%) e a física (22%). A diferença na classificação mostra como as violências psicológica e moral não costumam ser percebidas no dia a dia e como há entraves no reconhecimento e na nomeação das violências.
Discurso de ódio
O caso do Calvo do Campari apresenta mais um dado alarmante no Brasil: o aumento do discurso de ódio contra mulheres na internet, justamente o tipo de conteúdo que rendeu fama ao agressor.
Pesquisadores do Laboratório de Estudos de Internet da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em uma parceria com o Ministério das Mulheres, identificaram, de 2018 a 2024, 137 canais nacionais que pregam a misoginia somente no YouTube. Em alguns casos, os autores ainda vendem livros e até cursos que defendem o ódio contra mulheres, sobretudo as que se declaram independentes e feministas.
Principal canal de denúncia
O Ligue 180 é a principal porta de entrada para a denúncia e o acolhimento. Em duas décadas, a Central prestou mais de 16 milhões de atendimentos. Nos dez primeiros meses de 2025, o número de ligações para o serviço subiu 33% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Por meio do Ligue 180, é possível registrar denúncias de violência contra mulheres, obter orientação sobre leis e direitos, além de buscar informações sobre a localidade dos serviços especializados da rede de atendimento às mulheres (Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referência, delegacias especializadas, Defensorias Públicas, entre outros).



