“Eu votei no Bolsonaro”, afirma ex-diretor de Governança e Gestão do INSS
Ex-diretor do INSS admite receber R$ 2 milhões de empresas ligadas ao “Careca” em depoimento tenso na CPMI

O depoimento de Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança e Gestão do INSS entre 2021 e 2023, perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes contra aposentados e pensionistas, foi marcado por admissões contundentes e pela descrença generalizada dos parlamentares em suas explicações. Ele não é funcionário público e iniciou dizendo ter sido indicado ao cargo por seu currículo.
Guimarães admitiu ter recebido mais de R$ 2 milhões de empresas ligadas a Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como um dos principais articuladores do esquema.
O deputado Rogério Correia (PT-MG), um dos que requisitaram a convocação de Guimarães, destacou a gravidade das conexões que ele qualificou como um caso emblemático de como o esquema funcionava. Um ex-diretor indicado politicamente, que mantinha relações comerciais com o principal operador das fraudes, recebendo milhões enquanto os aposentados eram saqueados”.
Contradições e indicações políticas
Com o desenrolar do depoimento, ficou revelado que o processo de nomeação de Guimarães apresentava contradições. Inicialmente, ele afirmou não ter “relação com políticos”, mas depois admitiu ter sido indicado por conexões políticas em 2017 e em 2021.
Guimarães também admitiu ter votado em Jair Bolsonaro na eleição de 2022, o que reforçou a tese de parlamentares do PT sobre a omissão do governo anterior diante das fraudes.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi enfático ao afirmar que “vemos a confirmação de que houve uma omissão criminosa do governo Bolsonaro. Enquanto esse senhor recebia milhões do esquema, o governo fechava os olhos para o saque aos aposentados. Só com o governo Lula é que as investigações avançaram e o dinheiro começou a ser devolvido”.
Serviços de “educação financeira” questionados
Os parlamentares consideraram inverossímeis as explicações sobre os serviços prestados. Guimarães alegou que a Vênus Consultoria produzia “inserções educativas” sobre educação financeira, começando com duas por semana e chegando a mais de 16 mensais.
O senador Alencar Santana (PT-SP), membro da CPMI, destacou o padrão de indicações políticas: “O que temos aqui é a confirmação de um modus operandi: indicações políticas para cargos estratégicos, conivência com esquemas de corrupção e enriquecimento ilícito às custas dos mais vulneráveis. O governo Bolsonaro foi omisso porque estava comprometido com o esquema”.
Durante a gestão de Guimarães na diretoria do INSS, o número de denúncias de descontos indevidos em aposentadorias e pensões aumentou significativamente, quase dobrando a cada ano entre 2022 e 2024. Guimarães alegou que isso se devia à transferência da ouvidoria para dentro do próprio INSS, o que teria facilitado o recebimento das reclamações.
O deputado Paulo Pimenta reforçou: “É importante lembrar que as maiores vítimas desse esquema são as mulheres idosas, que dependem desses benefícios para sobreviver. A crueldade desse crime social é imensurável”.
Cobertura da imprensa
Os depoimentos continuam na terça-feira, 28, com os do piloto de aviões, Henrique Traugott Binder Galvão, que prestava serviços à CONAFER, que compareceu sem advogada e sem habeas corpus. Logo no início do seu depoimento, o relator, deputado Alfredo Gaspar, pediu que a testemunha ligasse para um amigo, e começou a fazer perguntas ao cidadão.

Na parte da tarde, foi ouvido um sócio do Careca do INSS, Domingos Sávio de Castro, que compareceu acompanhado de sua advogada e com habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Na abertura dos trabalhos, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana, queixou-se da cobertura da imprensa.

“Há um silêncio absurdo no país em relação a isso. Os grandes veículos não têm nos acompanhado”, reclamou o senador.
O parlamentar destacou que, enquanto as discussões entre os parlamentares geram manchetes imediatos, as revelações sobre esquemas de corrupção e desvio de dinheiro não recebem a cobertura devida. Ele questionou o silêncio dos grandes veículo. “Quando é a vez de se fazer a cobertura, não se faz”, afirmou, ressaltando que apenas manchetes negativas ganham repercussão.
O senador fez uma reflexão sobre a responsabilidade dos parlamentares e como são observados em todo o país, lembrando que o mais importante são os quase 30 mil aposentados, pensionistas e cidadãos que acompanham os trabalhos através do YouTube.
Ele destacou ainda o papel das redes sociais como principal meio de divulgação de notícias atualmente, reconhecendo que, apesar de alguns problemas, essas plataformas são fundamentais para informar a população brasileira sobre o que realmente está acontecendo.



