Segurança alimentar: experiências em políticas públicas mostram como o Brasil vence a fome e fortalece o abastecimento urbano
Realizado no Dia Mundial da Alimentação, Seminário da Fundação Perseu Abramo reuniu especialistas e gestores públicos para debater avanços nas políticas de combate à fome e os desafios do abastecimento nas cidades

Garantir comida no prato e dignidade na mesa foi o ponto de partida do seminário “Segurança Alimentar e Nutricional – o combate à fome e à miséria nas periferias”, realizado pela Fundação Perseu Abramo, por meio da Reconexão Periferias, em parceria com a Secretaria Setorial Agrária, o Setorial de Segurança Alimentar e o Setorial de Energia do PT, em 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação.
O encontro reuniu representantes do governo e da sociedade civil para compartilhar experiências de combate à fome e discutir os novos desafios da política de abastecimento urbano.
Da fome ao protagonismo das periferias
Na abertura, o consultor responsável pela Reconexão Periferias, Artur Henrique Silva Santos, apresentou a atuação da área e explicou como ela vem articulando secretarias do PT e do governo federal para construir estratégias e influenciar políticas públicas.
“As periferias não são só um lugar de pobreza, mas uma potência de cultura, solidariedade e desenvolvimento”, disse Artur Henrique, do Reconexão Periferias
Ele destacou que, em 2025, o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome, lembrando que há pouco tempo ainda era comum ver pessoas pegando sobras de comida em caminhões de lixo.
“Temos grandes desafios pela frente: 35 milhões de pessoas ainda sofrem com insuficiência alimentar. É cada vez mais importante que a Fundação Perseu Abramo produza conhecimento e mostre que as periferias não são só um lugar de pobreza, mas também uma potência, com exemplos vivos de cultura, arte, lazer, economia solidária e cozinhas comunitárias. Tudo isso está envolvido em um novo modelo de desenvolvimento justo e sustentável”, afirmou.
Políticas que mudaram o país
O diretor do Instituto Fome Zero, José Giácomo Baccarin, destacou as conquistas das políticas públicas de combate à fome, como o Bolsa Família e o fortalecimento da alimentação escolar.
“Talvez a gente não dê a dimensão devida a esta conquista, resultado de políticas muito bem construídas. O Brasil serviu de exemplo para outros países em educação, saúde, previdência e assistência”, disse.
Segundo Baccarin, o Bolsa Família atende mais de 20 milhões de famílias e se consolidou como uma política quase de Estado.
“Mesmo quando o PT deixou o governo, não conseguiram acabar com ele. E na alimentação escolar, desde o início do século 21, incorporamos a questão nutricional e a proibição de ultraprocessados nas escolas.”
Baccarin ressaltou ainda que o combate à fome depende também da redução da desigualdade de renda.
“Foi importante que, na reforma tributária, tenhamos isentado alimentos e medicamentos do imposto de circulação e o Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais. Isso é o mínimo, mas até o mínimo estava difícil de acontecer. Foi uma vitória da rua.”
Cozinhas solidárias e redes de apoio
A doutora em Saúde Coletiva Marcia Molina relatou sua experiência na Cozinha Solidária São Marcos, na periferia de Campinas, iniciativa da Paróquia São Marcos em parceria com o MST e a Economia de Francisco, que chegou a oferecer 700 refeições por dia durante a pandemia.
“Em 2022, servimos 93 mil refeições para a população da região dos Amarais. Agora estamos em uma área que também atende moradores em vulnerabilidade”, contou.
Marcia explicou que a cozinha funciona como uma “rede de redes”, mobilizando movimentos e entidades locais.
“O gás é bancado pelo Sindicato dos Petroleiros, a Associação dos Docentes da Unicamp doa frango semanalmente e recebemos cestas do assentamento Milton Santos. Também arrecadamos utensílios e roupas para um bazar mensal que ajuda a sustentar o projeto.”
Experiência de Araraquara
O coordenador do Setorial de Segurança Alimentar e Nutricional do PT, Marcelo Mazeta, lembrou o trabalho da prefeitura de Araraquara, sob gestão de Edinho Silva, atual presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, durante a pandemia.
“O prefeito sempre defendeu um modo popular e democrático de governar. O orçamento participativo foi essencial para chegar aos territórios mais vulneráveis. Logo no início, o governo fez um diagnóstico e focou ações emergenciais e estruturantes, que mudaram a vida de muitas famílias.”
Mazeta explicou que a cidade criou uma ampla rede de solidariedade e cerca de 40 conselhos municipais voltados a gerenciar e fiscalizar políticas públicas.
“Esse diagnóstico permitiu aderir ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, à rede de bancos de alimentos e ao Pacto Internacional de Milão. No combate à fome e à miséria, criamos um verdadeiro colchão social.”
Abastecimento e novos desafios
A coordenadora do Setorial Agrário do PT-SP, Lucinei Paes, destacou que políticas públicas de segurança alimentar também impulsionam a economia local. “Em municípios com base rural, como Ribeirão Branco, programas como o PNA e as compras públicas ampliaram o acesso das famílias e fortaleceram a produção local”, afirmou.
Já a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal, avaliou que o histórico de políticas e programas estruturou uma base sólida de diálogo com a agricultura familiar, mas ainda é preciso avançar na agenda de abastecimento urbano.

“Espero que, no próximo mandato, possamos construir um plano nacional de abastecimento com recursos, orçamentos e articulação efetiva entre governo e sociedade. Não pode ser um projeto apenas do setor privado.”
Lilian destacou os resultados recentes da política pública: “Celebramos não só a saída do Brasil do Mapa da Fome, mas também o retorno dos indicadores de insegurança alimentar grave ao patamar de 2013. Todo aquele cenário de terra arrasada que encontramos em 2021 está ficando para trás, o que mostra a força das políticas retomadas e seus resultados efetivos.”
Pobreza energética: a face invisível da desigualdade
Encerrando o encontro, a coordenadora do Setorial de Energia do PT-SP, Darlene Testa, chamou atenção para a pobreza energética, que considera “a face invisível da desigualdade”.
“As políticas de combate à fome e à miséria precisam se articular à geração de trabalho e renda e também ao direito à energia. Num momento em que falamos de transição energética, milhares de pessoas ainda têm dificuldade de acesso à eletricidade no Brasil”, alertou.