Ocupar as ruas por mais democracia e com novos atores, por Paulo Ramos
“Mesmo após 37 anos de Constituição Cidadã e 40 anos sem governos militares, teremos a oportunidade de virar a página?”, Paulo Ramos, coordenador do Reconexão Periferias, em artigo
… mas renova-se a esperança/ nova aurora a cada dia/ e há que se cuidar do broto/ pra que a vida nos dê flor e fruto. – F. Brant, M. Nascimento

Maria da Conceição Tavares deixou-se gravar em uma aula dizendo que o Brasil tentou fazer em poucas décadas o que os países europeus levaram séculos para fazer. Só não teve tempo suficiente para avaliar em quanto tempo nós conseguimos — ou não — construir uma democracia sólida legítima.
Faço esta reflexão motivado pelos acontecimentos mais recentes em que as forças democráticas ganharam força: os atos de 21 de setembro, o julgamento e a condenação de Jair Bolsonaro e sua gangue, assim como a formação e a vitória da chapa Lula-Alckmin em 2022 para a Presidência da República.
Apesar de recentes, quando olhados em perspectiva histórica, estes fatos remontam ao processo que começou com o fim da ditadura militar, que colocava atores dos grupos políticos de Lula e de Geraldo Alckmin em aliança contra os militares.
Brincando, eu costumava dizer que a chapa de 2022 parecia um comício das Diretas Já, em que se reuniam políticos de variadas agremiações partidárias em defesa da democracia e contra o regime dos generais.
Esta mesma semelhança eu notei na noite de 21 de setembro, quando, surpreso e encantado, acompanhei o show de grandes nomes da MPB no palco do ato contra a anistia no Rio de Janeiro. Em voz alta e para comigo mesmo, brinquei: quando entra o Milton Nascimento cantando Coração de Estudante? Para os menos informados, Coração de Estudante foi uma das canções que embalou os protestos da Campanha pelas eleições diretas para presidente no Brasil em 1984.
Talvez estas associações livres que me permite a minha intuição façam sentido se estivermos, pela primeira vez, vivenciando um processo de democratização realmente longo. Mesmo após 37 anos de Constituição Cidadã e 40 anos sem governos militares, teremos a oportunidade de virar a página?
A suspensão do pacto democrático que, em 2016, golpeou Dilma Rousseff e que depois levou, em 2018, Jair Bolsonaro ao cargo de presidente da nação, parece ter oportunizado que as instituições finalmente levassem generais golpistas da laia de 1964 a serem processados, julgados, condenados e presos. Feliz da geração que, ainda que tardiamente, sofreu, resistiu e ainda pode cantar as mesmas velhas canções que embalaram a resistência de antes e de agora.
Democracia nunca pode ser estanque e precisa de novos atores. Entre descontinuidades e reconfigurações das forças políticas que atuaram no fim da ditadura militar, vimos o vigor das esquerdas em partidos que se preservaram, como PT, PDT, PCdoB e PSOL, bem como movimentos como a CUT, UNE, MNU e MST. Com o povo na rua, renova-se a esperança… e nossa tarefa, como partido de esquerda, é fortalecer as reivindicações por direitos que vêm das periferias, das camadas excluídas, mas mobilizadas para conseguirmos um novo ciclo de democratização!
O que fazer agora que esquerda retoma às ruas após anos de refluxo?
Maria da Conceição Tavares deixou-se gravar em uma aula dizendo que o Brasil tentou fazer em poucas décadas o que os países europeus levaram séculos para fazer. Só não teve tempo suficiente para avaliar em quanto tempo nós conseguimos – ou não – construir uma democracia plena e legítima.
Faço esta reflexão motivado pelos acontecimentos mais recentes em que as forças democráticas ganharam força: os atos de 21 de setembro, o julgamento e a condenação de Jair Bolsonaro e sua gangue. E até mesmo a formação e a vitória de chapa Lula-Alckimin em 2022 para a Presidência da República.
Apesar de recentes, se olhados na longa distância do tempo, estes fatos remontam ao processo que começou com o fim da ditadura militar, que colocava atores dos grupos políticas de Lula e de Geraldo Alckimin em aliança contra os militares.
Brincando, eu costumava dizer que a chapa de 2022 parecia um comício das Diretas Já, em que aninham políticos de variadas agremiações partidárias em defesa da democracia e contra o regime dos generais.
Esta mesma semelhança eu notei na noite 21 de setembro, quando, surpreso e encantado, acompanhei o show de grandes nomes da MPB no palco do ato contra a anistia no Rio de Janeiro. Em voz alta e para comigo mesmo brinquei: quando entra o Milton Nascimento cantando Coração de Estudante? Para os menos informados, Coração de Estudante foi uma das canções que embalou os protestos da Campanha pelas eleições diretas para presidente no Brasil em 1984.
Talvez estas associações livres que me permitem a minha intuição façam sentido se estivermos, pela primeira vez tomando um processo de democratização realmente longo. Mesmo após 37 anos de constituição cidadã e 40 anos sem governos militares, teremos a oportunidade de virar a página?
A suspensão do pacto democrático que em 2016 golpeou Dilma Rousseff e que depois levou, em 2018, Jair Bolsonaro ao cargo de presidente da nação, parece ter oportunizado que as instituições levassem generais golpistas da laia de 1964 a serem processados, julgados, condenados e presos. Feliz da geração que, ainda que tardiamente, sofreu, resistiu e ainda pode cantar as mesmas velhas canções que embalaram a resistência de antes e de agora.
Entre descontinuidades e reconfigurações das forças políticas que atuaram no fim da ditadura militar, vimos o vigor das esquerdas em partidos que se preservaram como PT, PDT e PCdoB, mocotó a CUT, UNE, MNU e MST.
Com o povo na rua, renova-se a esperança, e nossa tarefa como o maior partido de esquerda do faial e do mundo é fortalecer as reivindicações por direitos que vem das periferias para conseguirmos um novo ciclo de democratização!