Okamotto: “Encantar o povo da Amazônia para preservar a região será o principal legado da COP 30”
Seminário reuniu acadêmicos, parlamentares, lideranças políticas e representantes de movimentos sociais para pensar a Amazônia como modelo de desenvolvimento sustentável. Acesse aqui a revista completa

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto, abriu com otimismo o seminário COP30 e desenvolvimento da Amazônia, realizado pela FPA em Belém (PA) em 4 de setembro, e defendeu que o Partido dos Trabalhadores aperfeiçoe as suas propostas para a região.
Para Okamoto, é uma oportunidade para os países mais ricos verem de perto a situação e os desafios do desenvolvimento, combate à pobreza e miséria na região. “Eles precisam vir aqui, conhecer e se comprometer com recursos que garantam a preservação da floresta, mas também condições dignas de vida”, apontou.
O seminário reuniu acadêmicos, parlamentares, lideranças políticas e representantes de movimentos sociais. E contou também com a participação do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Ministério do Planejamento e Orçamento, Pedro Silva Barros; da presidenta da CUT Pará, Vera Paoloni; e do deputado federal Airton Faleiro (PT-PA).
O objetivo do encontro foi pensar coletivamente alternativas capazes de transformar a Amazônia em referência mundial de modelo sustentável que assegure floresta em pé, geração de emprego e renda, inclusão social e justiça climática para os mais de 30 milhões de brasileiros que vivem na região.
Na ocasião, foi apresentada a cartilha COP30 e o desenvolvimento na Amazônia: subsídios para o debate, elaborada a partir das discussões de um grupo temático da FPA que reuniu especialistas e lideranças da região para aproveitar a agenda da COP e debater também os desafios do desenvolvimento inclusivo da região amazônica. O material será levado a encontros preparatórios da conferência.
Para Okamotto, a preservação ambiental deve estar acompanhada de alternativas concretas de desenvolvimento. “Queremos preservar a floresta, mas também criar alternativas para o povo trabalhador que precisa ter emprego, renda, educação e saúde. Para isso, é fundamental ouvir quem vive aqui e será diretamente impactado”, afirmou.
Crise Climática
O cenário de urgência climática pressiona uma solução que combine preservação do meio ambiente e desenvolvimento. A principal motivação das edições da COP é encontrar saídas para baixar a temperatura do planeta. O ano de 2024 já foi o mais quente da história, o primeiro que bateu 1,6º C de elevação da temperatura, ainda que temporariamente, o que indica que esse aumento ocorre muito mais rápido do que o previsto.
Neste contexto, a presidenta da CUT Pará, Vera Paoloni, destacou os impactos da crise climática nas comunidades amazônicas. “Chuvas intensas, secas prolongadas e até o fogo afetam comunidades inteiras, muitas vezes expulsando-as de seus territórios. A pauta ambiental se conecta à reivindicação histórica da classe trabalhadora: o direito de viver, de morar, de sobreviver e ser feliz”, disse.
As medidas para minimizar o impacto das mudanças climáticas precisam dialogar com as características específicas da Pan Amazônia, pois é na região que o aumento da temperatura alarga os problemas de saúde e altera a geografia das doenças, como pandemias, dengue e outras que são transmitidas pela água, no caso das inundações que a própria cidade de Belém vem enfrentando costumeiramente.
Preservação e desenvolvimento
De acordo com o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Pedro Silva Barros, o desafio é garantir a floresta e o povo em pé, pois é necessário dar condições de sobrevivência e acesso a direitos a quem nela vive. Para ele, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) pode apresentar uma saída que combine preservação e desenvolvimento.
”Esse recurso deve ser destinado a garantir desenvolvimento, soluções para segurança, infraestrutura, geração de emprego de qualidade com valor agregado e renda para a população da região”, defendeu.
Oportunidades, perspectivas e fé no futuro foram temas abordados pelo deputado federal Airton Faleiro (PT-PA). Para ele, o Partido dos Trabalhadores do Pará e de toda a região precisa apresentar propostas que convençam as pessoas de que não há contradição entre preservação e desenvolvimento.
“Mais do que ser sede de um evento mundial, nós teremos a chance de cobrar os países ricos e que mais poluem sobre o cumprimento do Acordo de Paris, mas também teremos a chance de fazer com que percebam que muita gente na floresta não tem acesso a energia, água tratada, internet e escolas de ensino médio e superior”.
Okamotto concordou com o deputado e finalizou chamando a atenção para o legado que a COP30 pode deixar para Belém. “Além das obras e da visibilidade internacional, o principal legado será a conscientização sobre a situação climática e a apresentação de propostas de futuro capazes de encantar a juventude e o povo trabalhador”, concluiu.
O seminário integra uma série de iniciativas promovidas pela Fundação Perseu Abramo, que busca fortalecer o papel estratégico da Amazônia no enfrentamento da crise climática e na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo para o Brasil.