Relatório da Anistia Internacional denuncia uso da fome como arma de guerra em Gaza; ofensiva israelense já deixou mais de 62 mil mortos desde outubro de 2023. Leia revista completa

Israel conduz campanha de fome deliberada em Gaza, denuncia Anistia Internacional
Reprodução: Anistia Internacional/©Ahmed Jihad Ibrahim Al-arini/Anadolu via Getty Images

Israel está promovendo uma campanha deliberada de fome na Faixa de Gaza ocupada, destruindo de forma sistemática a saúde, o bem-estar e o tecido social da vida palestina. 

A denúncia foi feita nesta segunda-feira (18) pela Anistia Internacional, que divulgou novos testemunhos de civis deslocados em situação de extrema carência.

Segundo a organização, os relatos confirmam que a combinação entre fome e doenças não é um efeito colateral das operações militares, mas resultado intencional de políticas implementadas ao longo dos últimos 22 meses. 

O objetivo, afirma a Anistia, é impor aos palestinos condições de vida capazes de provocar sua destruição física, caracterizando um processo de genocídio em curso.

Testemunhos e denúncia internacional

“À medida que as autoridades israelenses intensificam os ataques à Cidade de Gaza e ameaçam lançar uma invasão terrestre em grande escala, os testemunhos coletados vão além de relatos de sofrimento: configuram uma acusação contundente contra um sistema internacional que, durante décadas, concedeu a Israel uma licença para subjugar os palestinos com quase total impunidade”, afirmou Erika Guevara Rosas, diretora sênior de Pesquisa e Políticas da Anistia Internacional.

De acordo com a pesquisadora, reverter os efeitos das políticas israelenses exige o levantamento imediato e incondicional do bloqueio e a implementação de um cessar-fogo sustentável. 

Ela destacou, ainda, que o impacto é devastador sobretudo em crianças, pessoas com deficiência, doentes crônicos, idosos e mulheres grávidas ou lactantes.

Em agosto, o Ministério da Saúde de Gaza registrou a morte de 110 crianças por complicações relacionadas à desnutrição.

Fome em massa e relatório da IPC

Um alerta publicado em 29 de julho pela IPC (Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar) concluiu que o pior cenário de fome já está em curso e que o número de mortes por inanição tende a aumentar nos próximos meses.

Segundo o documento, os limiares de fome foram atingidos em grande parte do território. A combinação de bloqueio, destruição de infraestrutura e ataques sistemáticos transformou a fome em arma de guerra.

Gaza aceita cessar-fogo negociado no Catar

O governo do Catar confirmou que o Hamas respondeu positivamente a uma proposta de cessar-fogo de 60 dias. Até o momento, Israel não apresentou resposta.

Enquanto isso, a ofensiva israelense prossegue. Ao menos oito pessoas morreram em ataques contra tendas de deslocados em Khan Younis, e outras quatro em Deir al-Balah. Forças israelenses também explodiram casas no sul da Cidade de Gaza e bombardearam o bairro de Tufah. O balanço desde o amanhecer chega a 26 mortos.

Correspondentes da Al Jazeera relataram ainda que forças israelenses explodiram casas no sul da Cidade de Gaza, além de intenso bombardeio no bairro de Tufah, no leste da cidade. O balanço desde o amanhecer chega a 26 mortos.

Número de mortos segue crescendo

O Escritório de Direitos Humanos da ONU afirmou que Israel não adota medidas suficientes para conter a fome generalizada. O Ministério da Saúde de Gaza confirmou mais três mortes por desnutrição nesta segunda-feira.

Desde o início da guerra, em outubro de 2023, ao menos 62.004 pessoas foram mortas em Gaza e outras 156.230 ficaram feridas, segundo autoridades locais. No ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, em Israel, 1.139 pessoas foram mortas e mais de 200 feitas reféns.