Da infância nos becos do Jurunas à arte digital no Mabe: o percurso de GC ARTE, voz do afrofuturismo amazônico
Artista visual paraense transforma vivência periférica em obras afrofuturistas com referências amazônicas, conquistando espaço no circuito nacional e internacional

Nascido e criado no Jurunas, bairro periférico de Belém (PA), o artista visual Gabriel Cardoso, mais conhecido como GC ARTE, é um dos nomes mais jovens e promissores do afrofuturismo amazônico. Aos 30 anos, já integrou exposições no Brasil e no exterior, como “The Democracy Project”, em Manhattan, e foi o primeiro homem negro a expor uma ilustração digital no Museu de Arte de Belém (Mabe).
Participou da abertura da Bienal das Amazônias, tornou-se editor-chefe do coletivo de quadrinhos independentes Açaí Pesado, e é também designer e coidealizador da Jenipapo Feira de Arte Gráfica. Em 2024, lançou “Afrofuturismo Amazônico”, no Espaço Mokae, e teve a obra Kurupira exibida no Mabe, como parte da mostra “Levantes Amazônicos”. Atualmente, participa do 41º Projeto Arte Pará.
Gabriel afirma que a base de seu trabalho foi construída no contato com a natureza durante a infância, especialmente nas temporadas passadas em Mazagão, no Amapá. Por meio de suas criações, ele propõe um futuro em que corpos pretos e indígenas tenham dignidade, acesso à tecnologia e senso de pertencimento.
“A primeira vez que visitei uma exposição de arte eu já tinha 18 anos. Acho que isso se deve à falta de incentivo, principalmente aos meninos negros, que não são estimulados a estar em lugares culturais e artísticos”, diz.
Autodidata, seu primeiro contato com o desenho veio das histórias em quadrinhos, que lia compulsivamente na infância e tentava reproduzir. Suas principais referências vêm do afrofuturismo, do carimbó, dos encantados e de outras expressões culturais da Amazônia.
A carreira começou na pandemia de covid-19, quando foi selecionado por um edital da Lei Aldir Blanc, que viabilizou sua primeira exposição solo, Futuro Preto. “Como não era possível expor dentro de uma galeria, por ser um espaço fechado, apresentei meu trabalho na vila onde morava, no Jurunas. E a exposição foi feita em tecidos, que não são um mero suporte para mim. A bandeira é parte da obra. Isso me possibilitou mostrar minha arte a quem eu queria que visse, porque eu, quando criança, não me via nas galerias e tampouco naquelas imagens representadas, que eram sempre de pessoas brancas”, relata.
Desde então, GC tem seguido sua trajetória com recursos obtidos por meio de projetos de incentivo, o que lhe permite viver da própria arte. Aprendeu também a valorizar seu trabalho, seu tempo e sua pesquisa.
“Quando me perguntam quanto tempo levei para concluir um trabalho, digo que estou desenhando desde os dezesseis anos. Então, foram mais de dez anos para essa obra estar pronta. E aí entendi o valor do meu tempo e da minha pesquisa.”




