Economistas alertam para aumento dos preços para as famílias americanas e risco de desaceleração econômica. Líderes mundiais criticam decisão unilateral

Trump impõe tarifas globais e derruba bolsas: impacto chega a Apple, Amazon e Boeing
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Em um discurso de quase uma hora no Rose Garden da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (2), o que chamou de “Dia da Libertação”: todos os produtos importados passarão a ser taxados em pelo menos 10%. Trump alegou que a medida vai “alavancar a economia americana” e, com um cartaz repleto de países e novas tarifas, incentivou as empresas a transferirem suas fábricas para os EUA para evitar a tributação.

Um documento oficial divulgado pela Casa Branca afirma que os países com os quais os EUA registram maiores déficits comerciais serão alvo de tarifas ainda mais elevadas. Os demais seguirão sujeitos à alíquota básica de 10%. As novas taxas entram em vigor em 9 de abril de 2025, às 12h01. Ainda segundo o texto, as tarifas continuarão até que o presidente considere “resolvida ou mitigada” a ameaça representada pelo déficit comercial e o “tratamento não recíproco” por parte de outros países.

Mercado reage com forte queda

As incertezas em torno das tarifas e seus impactos na economia global provocaram uma reação imediata no mercado financeiro. Na quinta-feira (3), o USA Today registrou baixa significativa nas bolsas. O índice Nasdaq caiu quase 6%, o Dow Jones recuou cerca de 1.700 pontos, e o S&P 500 teve queda de quase 4,5%.

Empresas de tecnologia e comércio internacional foram as mais afetadas. A Apple perdeu mais de US$ 300 bilhões em valor de mercado, sua pior queda diária desde a pandemia, devido ao temor de aumento nos custos e preços dos produtos. A empresa fabrica a maior parte de seus aparelhos na China, Índia e Vietnã — que foram atingidos com tarifas de 26% e 46%.

A Amazon perdeu quase US$ 190 bilhões em valor de mercado. Nike, GAP e Boeing também registraram perdas expressivas. Esta última, maior exportadora dos EUA em valor, viu suas ações despencarem mais de 10%, encerrando uma era de 45 anos de produção com baixa tributação no setor aéreo.

Quem paga a conta?

Especialistas alertam que quem arcará com os custos das tarifas será o consumidor norte-americano. “Quem paga as taxas de importação são os próprios importadores, não os países de origem dos produtos”, explica Alan Bracker, ex-consultor da Unicef em Comércio Internacional. “A medida não vai tornar os EUA autossuficientes da noite para o dia. Como produzir alumínio em escala industrial de um dia para o outro?”, questiona.

O economista Paul Krugman, prêmio Nobel, afirmou ao podcast de Ezra Klein que a estrutura tarifária anunciada por Trump é “mais elevada do que a aplicada após o Ato Smoot-Hawley, de 1930”. Para ele, trata-se do maior choque comercial da história moderna. Krugman ainda criticou a metodologia do governo Trump para definir os percentuais, sugerindo que os cálculos foram baseados unicamente no déficit bilateral com cada país.

Segundo o Yale Budget Lab, as tarifas devem aumentar em média US$ 3.800 por ano os gastos das famílias norte-americanas.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, declarou que “é altamente provável que essas tarifas provoquem um aumento temporário da inflação e uma desaceleração do crescimento”. Em evento na Virgínia, afirmou que os aumentos “serão significativamente maiores do que o esperado”.

Aprovação em queda

A reação também se reflete nas pesquisas de opinião. Um levantamento Reuters/Ipsos divulgado no início de abril mostrou que a aprovação de Trump caiu para 43% — quatro pontos a menos que no início do ano. Oito em cada dez entrevistados acreditam que as tarifas resultarão em aumento de preços nos supermercados e outros itens essenciais.

Reação internacional

O presidente Lula respondeu diretamente às medidas: “Não batemos continência para nenhuma outra bandeira que não seja a verde e amarela”. Durante evento de prestação de contas dos dois primeiros anos de governo, Lula afirmou que o Brasil adotará “todas as medidas cabíveis para proteger nossas empresas e nossos trabalhadores” e defendeu o multilateralismo e o livre comércio.

O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou as medidas como “brutais e infundadas” e defendeu uma suspensão temporária de investimentos europeus nos EUA. “Qual o sentido de investir bilhões em um país que está nos atacando?”, questionou.

A China anunciou uma tarifa de 34% sobre todos os produtos norte-americanos a partir de 10 de abril. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, também criticou as novas tarifas contra a União Europeia, chamando-as de “erradas”. Segundo ela, uma guerra comercial enfraqueceria o Ocidente e daria vantagem a outras potências globais.