Altas temperaturas afetam o organismo desregulando o sistema de controle da temperatura corporal 
Ondas de calor: os alertas e cuidados com o corpo  
Sensação insuportável – calor levou mais de 5 mil pessoas a buscar atendimento no Rio de Janeiro somente em 2025

O fenômeno das ondas de calor é descrito pelos meteorologistas como um período de mais de cinco dias em que os termômetros permanecem pelo menos cinco graus acima da média. Os picos de altas temperaturas ocorrem com frequência no Brasil nos últimos anos. Somente em 2025, já foram registradas três ondas de calor, e a previsão é de que essa difícil sensação térmica ainda se estenda até após o carnaval. 

Para a população, em especial as pessoas que se expõem mais ao sol e que não têm acesso a equipamentos de ar-condicionado, resta apenas tentar se proteger e cuidar do corpo a partir de medidas que fazem bastante diferença na mitigação do problema, como, por exemplo, a hidratação. 

Na condição de calor extremo, o organismo pode perder a capacidade de autorregular a temperatura por conta de uma falha no mecanismo de transpiração, que é responsável por fazer o corpo resfriar. A condição é considerada uma emergência médica, já que neste caso há risco de morte. Manter a temperatura corporal ao redor dos 36,5°C é essencial para que o corpo funcione normalmente. Sintomas como inchaço, vermelhidão na pele, exaustão e desmaios devem ser observados e levados a sério. 

Um levantamento promovido pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Fundação Oswaldo Cruz e Universidade de Lisboa apontou que, no período entre 2000 e 2018, 48 mil pessoas morreram devido ao calor no Brasil. Enquanto isso, um estudo da revista Nature Medicine mostra que foram registradas mais de 50 mil mortes ocasionadas pelas altas temperaturas, somente no ano de 2023, no verão europeu.

Efeitos no corpo

Segundo um artigo da professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade Estadual de Maringá, Maria Montserrat Diaz Pedrosa, os efeitos de uma possível desregulagem no sistema de controle da temperatura corporal são: confusão mental, dor de cabeça, tontura, náusea, aceleração do coração, queda da pressão arterial e vômitos. No caso da temperatura corporal atingir 40 ºC ou mais, a pessoa pode ter convulsões, trombose, hemorragia e lesões nos rins, fígado e cérebro. Esse aumento da temperatura corporal é chamado de hipertermia. 

“Primeiro, quando o indivíduo está exposto ao sol, há um ganho adicional de calor pela radiação solar. Segundo, ambientes com pouca ou nenhuma circulação de ar também prejudicam a evaporação de suor e o resfriamento. Terceiro, roupas que dificultam ou impedem a perda de calor corporal também podem ser um agravante. (…) E, finalmente, em climas quentes, espaços de grande aglomeração de pessoas podem ficar ainda mais aquecidos. Associados à baixa circulação de ar e à ingestão insuficiente de líquidos pelas pessoas, esses locais podem se tornar um estopim para episódios frequentes de estresse térmico e hipertermia”, diz o artigo.

Mundo do trabalho

De acordo com o Ministério Público do Trabalho, as áreas mais afetadas pelas fortes ondas de calor são: agricultura, construção civil, transporte, turismo e esporte. Denúncias relacionadas ao calor excessivo são consideradas, de acordo com o MPT, como violação à norma regulamentadora 24. De acordo com um relatório da OIT, a Organização Internacional do Trabalho, até 2030, o mundo deve perder cerca de 2% do total de horas trabalhadas por causa do estresse térmico. 

Concentração das crianças 

No Rio Grande do Sul, a Justiça adiou o início do ano letivo na rede estadual a pedido do sindicato de professores por conta das altas temperaturas. Os termômetros chegaram a 43,8ºC, maior temperatura já registrada no estado em 115 anos.

Os principais efeitos nas crianças são: desidratação, exaustão, cãibras e insolação, de acordo com a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro. “O calor elevado também causa ressecamento da pele, desconforto nos olhos, boca e nariz e deixa todos mais irritados”, afirma a entidade, que destaca que as crianças são mais vulneráveis à desidratação porque a porcentagem de água em seu corpo é maior do que nos adultos.