Opinião: por que Ainda Estou Aqui irrita tanto os bolsonaristas?
Filme com Fernanda Torres tem sido aclamado por crítica e público, mas incomoda apoiadores do ex-presidente
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Prestes a concorrer a três estatuetas no Oscar e com diversos prêmios na bagagem, o filme Ainda Estou Aqui está, com sobras, na lista dos melhores filmes de 2024. Não só pela atuação magistral de Fernanda Torres como pela direção sensível e impactante de Walter Salles.
Para além das salas de cinema, o filme também tem tomado conta do debate nas redes sociais com direito a defesa irrestrita do elenco e da trama nas principais plataformas virtuais. Desde que ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz, no entanto, Fernanda Torres ajudou a desenterrar um grupo menor, mas barulhento, de críticos tanto ao trabalho dela quanto ao filme em si.
As críticas vêm em sua absoluta maioria de defensores do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro. Mas por que Ainda Estou Aqui incomoda tanto os bolsonaristas?
A primeira razão é óbvia. O filme retrata um dos lados mais sombrios da história nacional: a Ditadura Militar. Embora o horror esteja na maior parte nas entrelinhas, e retratado com sutileza ( o filme é sobre silêncio), nenhum defensor do Golpe de 1964 consegue engolir o tamanho do horror causado durante o período. Alguns haters, aliás, chegam a dizer que a história sequer existiu, embora esteja toda documentada no livro homônimo lançado com a ajuda da Comissão Nacional da Verdade, criada por Dilma Rousseff em 2012 e que ajudou a criminalizar os responsáveis por torturas e violência.
Outro ponto que está difícil de engolir para os bolsonaristas é o fato de a atriz Fernanda Torres ser apoiadora do presidente Lula. Não foram poucas as pessoas que recuperaram o encontro deles logo após a vitória em 2022. “Comunista!”, bradam os acéfalos nas redes sociais quando se deparam com o imenso carinho com o qual o encontro foi realizado.
O terceiro argumento que irrita os séquitos dos ex-presidente é uma fake news. Muitos andaram por aí publicando notícias de que o filme foi feito com a ajuda da Lei Rouanet, o que não é verdade. A Lei sequer auxilia produções audiovisuais em longa metragem.
Por sorte, tanto o filme quanto Fernanda Torres estão protegidos pela grande massa de apoiadores que torcerão, no dia 2 de março, para que a obra leve uma das três categorias em que concorre: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz. E, segundo o termômetro das principais revistas e jornais especializados em cinema,há grandes chances de a obra levar ao menos um dos três prêmios. Os bolsonaristas que lutem.