Quem apostar contra Brasil que está ressurgindo irá perder, por Aloizio Mercadante
Terceiro governo Lula repete processo virtuoso de crescimento com justiça social e preservação do meio ambiente
Publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo
Em novembro de 2007, no primeiro ano do segundo governo Lula, publiquei um artigo na Folha intitulado “Eles estão chegando”. Eles quem? Eles, os pobres, os miseráveis, os excluídos de oportunidades e direitos. Eles, os invisíveis.
Eles, os que passam fome, os que não têm empregos decentes, os que foram abandonados pela educação e não acessam as universidades. Eles, os que nunca têm seus sonhos realizados, mas que persistem sempre. Eles, os que sobrevivem de luta e vivem de fé.
Eles, os que dormem noites curtas e se exaurem em dias longos. Eles, os que sempre suam por seus incertos e magros almoços, que nunca são grátis.
Eles, os que não jogam na Bolsa, não especulam com o dólar e não vivem do rentismo propiciado pelas imoderadas taxas de juros. Ele, o fantástico povo brasileiro, nosso principal ativo humanitário, econômico e político. Nossa salvação coletiva.
Ele, eles e elas, argumentava naquele artigo, estavam chegando aos lugares antes acessíveis apenas a uma minoria de privilegiados. Eles estavam chegando, graças ao governo Lula, aos mármores dos aeroportos. Voando pela primeira vez. Chegando ao fino papel dos títulos universitários. Os primeiros doutores dos filhos da pobreza.
Eles estavam chegando ao século 20 por meio do fornecimento de energia elétrica. Saindo das trevas pela primeira vez. Vendo os rostos adormecidos dos filhos pela primeira vez. Eles estavam chegando, ao mesmo tempo, ao século 21, pela via da inclusão digital, pela primeira vez. Eles estavam chegando ao mercado de consumo, ao emprego decente e ao salário suficiente. A igualdade racial avançava pela Lei de Cotas e por ações afirmativas. Cidadãos de verdade, pela primeira vez. Brasileiros de um Brasil para todos e todas, pela primeira vez.
Mas isso desagradava os ideólogos das assimetrias, os “kids pretos” da desigualdade, que viam com um misto de temor e ódio esse processo libertador e civilizatório.
Pois bem, após um longo retrocesso causado pelo golpe, pelo predomínio de uma agenda política francamente reacionária e por um governo de tintes nazistoides, aquele processo libertador e virtuoso se repete, agora, no terceiro governo Lula.
Democraticamente, o Brasil se levantou, sacudiu a poeira e o mofo de uma agenda antipopular e autoritária, derrotou a tentativa de golpe, reafirmou o Estado de Direito e “deu a volta por cima”.
Eles e elas estão voltando. Eles estão voltando a sair da pobreza e da miséria. As taxas de desigualdade, desemprego e pobreza do país estão entre as menores da história. Com efeito, a pobreza e a extrema pobreza no Brasil registraram, em 2023, os menores índices da série histórica iniciada em 2012, conforme o IBGE. Pela primeira vez, a extrema pobreza ficou abaixo de 5%, caindo para 4,4%, o que representa 9,5 milhões de pessoas. Eles estão voltando à saciedade. Saindo da fome de novo.
Apenas em 2023, cerca de 13 milhões de pessoas saíram da condição de fome no Brasil, o que representa uma redução de mais de 30% da insegurança alimentar total do país. Em breve, o Brasil deverá sair, novamente, do Mapa da Fome da ONU.
Eles estão voltando ao emprego. A taxa de desemprego no terceiro governo Lula caiu para apenas 6,1%, a menor da nova série histórica do IBGE. Hoje, temos também a maior quantidade de trabalhadores ocupados. A massa salarial também atingiu um recorde histórico, de R$ 332,7 bilhões.
Deve-se ressaltar que, entre janeiro e setembro de 2024, a quantidade de novos empregos na indústria cresceu 75% em relação a 2023, e mais da metade deles foram ocupados por trabalhadores jovens. O Brasil subiu 30 posições no ranking mundial de crescimento da produção industrial. A indústria brasileira se destaca no crescimento do PIB, que foi de 3,2% em 2023 e deve alcançar 3,6% em 2024.
O plano Nova Indústria Brasil está retomando o processo de industrialização, e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), instituição por mim dirigida, já aprovou créditos com uma média de R$ 190,6 bilhões nos dois últimos anos, contra a média de R$ 92 bilhões dos quatro anos do governo anterior. O volume de crédito aprovado nestes dois anos de governo Lula já é superior aos quatro anos anteriores, sendo mais de R$ 171 bilhões para a indústria, com recorde histórico do financiamento para a inovação e a liderança do setor de alto valor agregado, como a indústria aeronáutica, a farmacêutica e a automotiva.
Com Lula, rumamos para deixar de ser apenas o maior produtor-exportador de alimentos e estamos revertendo a primarização da nossa economia. Avançamos para oferecer empregos de qualidade e renda mais elevada para a população.
De fato, eles estão voltando também à renda e ao consumo. Com a volta do emprego, a valorização do salário mínimo e o fortalecimento de programas sociais, como o Novo Bolsa Família, eles estão voltando a constituir um amplo mercado interno de consumo de massa, aquecendo muito as vendas do nosso comércio.
Com isso, as vendas do varejo aumentaram 12,2% em 2024 e, no último Natal, cresceram nada menos que 5,5% nos shoppings em relação ao anterior, que já havia mostrado recuperação. Elas e eles voltaram para deixar cheias as lojas. Tudo isso estimula a nossa economia. Com elas e eles voltando, os investimentos voltaram também e já atingiram a taxa de 17,6% do PIB.
O Brasil com Lula voltou a ter a confiança do mundo. Lideramos o G20 e vamos estar à frente do Brics e da COP 30.
O desmatamento da Amazônia atingiu a menor taxa dos últimos nove anos. No Pantanal, a redução estimada foi de 77,2% entre meados de 2024 e meados de 2023. Além disso, o Brasil lidera o G20 em energia limpa e renovável, graças ao BNDES, que, segundo a Bloomberg, foi o banco que mais financiou energia limpa na história. Esse esforço contribuiu para que nosso país passasse a ser o segundo maior receptor de investimentos estrangeiros diretos do mundo. O planeta vê o potencial sólido do nosso país e sua liderança no enfrentamento da grave crise climática.
Com o crescimento, o consumo e os investimentos voltando, as receitas também voltaram. Em novembro deste ano, a arrecadação federal atingiu R$ 209,2 bilhões, o maior valor para o mês desde 2013 e 11,2% superior ao mesmo período de 2023. A reforma tributária, aguardada por 40 anos, deverá aprofundar esse processo, com mais racionalidade.
Com eles e o crescimento, o consumo e os investimentos voltando, a tendência é que o Brasil se reequilibre cada vez mais do ponto de vista fiscal e que nossa dívida adquira um perfil perfeitamente sustentável, como certamente acontecerá com as novas medidas econômicas e a nova gestão do Banco Central.
A inflação, apesar da campanha de pânico introduzida pelos interessados no rentismo imoderado, está sob controle. O IPCA deve ser de 4,9% em 2024 e cair, segundo as projeções do Banco Central, para 4,5% em 2025. A inflação não voltou, apesar do impacto das inundações no sul e da seca histórica no Centro-Oeste e no Norte.
Não há gastança nem descontrole. O governo Lula herdou um pesado passivo fiscal de um governo negacionista que nunca cumpriu o teto de gastos e promoveu um populismo fiscal eleitoral sem precedentes na história do país. O déficit do governo anterior, em valores correntes, foi de R$ 88,9 bilhões em 2019, R$ 745,3 bilhões em 2020 e R$ 35,9 bilhões em 2021 —em 2022, houve um superávit maquiado de R$ 54,9 bilhões, decorrente do calote nos precatórios, de R$ 95 bi, e no ICMS dos estados, de R$ 80 bi.
A equipe econômica de Fernando Haddad tem feito um trabalho incansável para recuperar as finanças públicas e reduzir o ritmo de expansão dos gastos obrigatórios para preservar os investimentos públicos, com resultados muito expressivos e promissores. Em 2024, o déficit primário deve ser de apenas 0,1% do PIB, segundo o ministro, excluído o eficiente e indispensável empenho na recuperação do Rio Grande do Sul, que sofreu a maior catástrofe natural da história do Brasil.
O que há é uma intolerância ideológica e uma campanha política para tirar os pobres do Orçamento e manter privilégios inaceitáveis. Tirar os pobres e continuar a eximir os ricos dos devidos impostos. Tirar os pobres e manter um rentismo injustificável e incapaz de promover o desenvolvimento. Tirar os pobres e investir na “parlamentarização” opaca e ineficiente da gestão orçamentária. Essas são questões fundamentais que o país e sua democracia têm de decidir.
Mas quem apostar contra esse novo Brasil que está ressurgindo irá perder. Quem assim o faz está do lado errado da história e na contramão das tendências mundiais, que apostam no combate às assimetrias econômicas e sociais, no controle do rentismo financeiro e em um novo e dinâmico papel do Estado na economia, com sustentabilidade ambiental e enfrentamento da crise climática.
Por tudo isso, o investimento na preservação do meio ambiente e em nossa própria gente é o melhor investimento a ser feito. É um investimento que produz inúmeros benefícios econômicos, ambientais e sociais. Na realidade, é um investimento que beneficia todo o mundo, não apenas os pobres e necessitados. Não é “gastança”, é investimento no futuro do Brasil.
Só os que ainda olham o país pelo retrovisor do crescimento predatório e da ideologia da desigualdade e da exclusão não conseguem perceber essa verdade fundamental. Até mesmo a democracia se beneficia muito desse investimento, pois os processos democráticos só se consolidam quando todas e todos têm oportunidades, emprego, saúde, segurança e educação. Quando todas e todos são cidadãos de verdade. Quando todas e todos têm esperança em um futuro melhor.
Quando a esperança volta, o ódio, o grande inimigo atual da democracia, some. Lula, pouco antes de assumir seu terceiro mandato, disse ao mundo que o Brasil tinha voltado.
De fato, o Brasil voltou. Voltou para inspirar o planeta com seu exemplo de solidariedade, de justiça social, de combate à pobreza e à fome, de busca do equilíbrio ambiental e de paz. Mas o Brasil voltou porque eles estão voltando.
O Brasil voltou porque o povo brasileiro voltou. Voltou ao lugar que lhe cabe no país e na história e, desta vez, não podemos retroceder. Eles estão voltando para ficar.