Ainda Estou Aqui e o retorno do público às salas de cinema
Prêmios conquistados pelo filme de Walter Salles jogam luz sobre a produção audiovisual brasileira e lota salas de cinema
Que Fernanda Torres é um fenômeno, a esta altura ninguém duvida. Antes mesmo de subir ao palco do Globo de Ouro, em Los Angeles, para receber o prêmio de melhor atriz e colocar o Brasil em frenesi com um misto de surpresa e felicidade, o longa Ainda estou aqui, protagonizado por Torres, já vinha fazendo história. Além de outras louvações em festivais, o longa chegou a 3,08 milhões de espectadores no fim de semana dos dias 4 e 5 de janeiro. Já Fernanda segue no “auge”, agora na corrida pelo Oscar.
Em termos de comparação, o longa Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, que estreou nas telonas em 2002 e concorreu a quatro Oscar, registrou cerca de 3,05 milhões de espectadores.
Mas esta não é a única boa notícia vindo das salas de cinemas. Sequência do clássico de Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida 2, dirigido novamente pela dupla Guel Arraes e Flávia Lacerda, manteve o histórico de sucesso nas bilheterias brasileiras pela segunda semana consecutiva. O filme, com Matheus Nachtergaele e Selton Mello, já levou 2 milhões de espectadores aos cinemas e arrecadou 43,9 milhões de reais desde sua estreia, em 25 de dezembro. Os dados são da Comscore.
Embora grandes bilheterias de produções brasileiras sejam exceção e não um sintoma do momento do cinema nacional, as ótimas bilheterias destes dois “âncoras” têm tido um ótimo efeito de levar público às salas de cinema, o que contribui na reconstrução do hábito – e demanda mais investimentos e planejamento para o crescimento do setor, que se recupera agora da crise dramática causada pela pandemia e pela gestão Bolsonaro, que apagou o audiovisual brasileiro.
Um primeiro dado importante é um marco histórico: o recorde de 3.509 salas de cinema em funcionamento no país. Este número, divulgado pela Ancine em 1° de janeiro de 2025, supera as 3.478 salas registradas em 2019, antes da pandemia de Covid-19, que resultou no fechamento de quase metade das salas de cinema em 2020.
Além disso, o público brasileiro demonstrou maior interesse pelo cinema nacional. Em 2024, o número de espectadores de produções brasileiras dobrou em relação ao ano anterior, com grandes bilheterias como “Ainda Estou Aqui” e “O Auto da Compadecida 2”. Considerando também as produções estrangeiras, mais de 121 milhões de pessoas frequentaram as salas de cinema no último ano, também fruto das políticas de incentivo à reabertura e ampliação do alcance.
Investimento do governo federal
O governo Lula lançou linhas de crédito por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA),SA), o que possibilitou a recuperação do setor, impulsionando a abertura de novas salas em municípios do interior e periferias urbanas. De acordo com a Ancine, esses recursos estão financiando a construção de 156 novas salas em todo o país e a modernização de outras 84, visando a atualização tecnológica e a melhoria da experiência dos usuários das salas.
As novas salas contemplaram 21 municípios que não contavam com cinema. Cidades como Monte Carmelo e Ponte Nova, em Minas Gerais, e Miracema, no Rio de Janeiro, ganharam suas primeiras salas, enquanto Viçosa, em Alagoas, celebrou a reabertura de um cinema que estava fechado há 30 anos.
Segundo o Ministério da Cultura, “esse crescimento reflete um compromisso com a descentralização do acesso ao audiovisual e a inclusão cultural, com soluções de acessibilidade, alcançando pessoas com deficiência visual e auditiva”. Cabe destacar ainda que, de acordo com o MinC, entre 2023 e 2024, o setor audiovisual recebeu investimentos federais de R$ 4,8 bilhões, valor oriundo do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e de leis de incentivo geridas pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). Soma-se a isso os R$ 2,8 bilhões provenientes da Lei Paulo Gustavo.