Altivez das instituições democráticas salvaram o Brasil de mais uma ditadura, por Alberto Cantalice
Agência Brasil

Os fatos apontados pela Polícia Federal demonstraram que o país esteve à beira de um golpe de Estado. O ápice das ações seriam os assassinatos de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.

O indiciamento de Bolsonaro, Heleno, Paulo Sérgio, Almir Garnier, Estevam Teófilo e Braga Netto mostra indícios de que a conspiração era de alto coturno e quase se consumou.

A tentativa de instrumentalização do Batalhão de Operações Especiais, os chamados Kids Pretos, sediado em Goiânia, é o cerne da intentona golpista.

A captura do Batalhão, localizado na fronteira com o Distrito Federal, era um projeto de longo curso. Haja visto que o Tenente-coronel Mauro Cid, ao findar seu período como Ajudante de Ordens do então presidente Jair Bolsonaro, estava já indicado para assumir seu comando. Designação que foi abortada pelo atual Comando do Exército, pela incriminação de Cid pela ação dos atentados à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 e pelo acobertamento do caso das joias indevidamente apropriadas pelo Capitão Presidente.

Infere-se, pelo corolário dos fatos que o estímulo à presença dos extremistas nas porta dos quartéis, os eventos que culminaram com a tentativa de invasão do prédio da PF e a bomba desarmada no dia da diplomação de Lula e o fatídico 8 de Janeiro estavam estruturados para o golpe que impediria a posse da chapa eleita e imporia ao Brasil mais um período autoritário.

A falência do golpe

Três elementos estão conjugados para a falência do projeto golpista: o não apoiamento da maioria do alto-comando da força terrestre e do Comando da Aeronáutica;

A rejeição peremptória do governo Joe Biden. (dado o histórico de alinhamento das Forças Armadas brasileiras com o Exército Norte Americano, desde a Força Expedicionária Brasileira, que remonta aos anos de 1944 e desdobrada no incondicional apoio estadunidense ao golpe de 1964; a firme defesa da lisura do processo eleitoral pelo TSE e pelo STF.

A Intentona golpista de 2022/2003 é filha dileta da impunidade dos golpistas de 1964. Portanto, a punição exemplar dos “peixes graúdos” que atentaram contra o Estado Democrático de Direito é fundamental para o fortalecimento e consolidação da democracia no Brasil.

A extrema direita tenta, com o apoio de “juristas”, “jornalistas” e influenciadores digitais desse campo, embalar uma proposta de anistia aos crimes cometidos, uma espécie de perdão ao imperdoável. Derrotá-los nesse intento é tarefa fundamental para todos os setores da sociedade brasileira que repudiam a ditadura. Não há perdão para quem tenta abolir o Estado de Direito.

Vem de longe

Bolsonaro, em uma entrevista anos atrás, que volta e meia circula pelas redes sociais, dizia que “o erro do regime militar foi não ter matado 30 mil”, ou seja, para ele, a matança foi menor do que deveria ter sido. Vale lembrar que este mesmo Bolsonaro, ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, usou a fala na casa do povo, que foi fechada durante a ditadura, para exaltar o Coronel Brilhante Ustra, um dos mais monstruosos torturadores do regime militar. 

Também enquanto deputado, quando o Congresso inaugurava o busto de Rubens Paiva, deputado cassado dois dias depois do golpe de 1964, e depois do AI-5 preso, torturado e assassinado, Jair Messias Bolsonaro deixou seu gabinete para ir até a cerimônia e cuspir na estátua, na presença da família Rubens Paiva. A história, inclusive, está nos cinemas, denunciando ao mundo o que vivemos e o que estivemos perto de reviver, no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que conta a história pelo ponto de vista da advogada Eunice Paiva, viúva do deputado. 

Bolsonaro nunca escondeu suas intenções e prediletismo autoritaristas. Do pensamento do chefe do golpismo pode se imaginar que além dos assassinatos do presidente eleito, do vice e do presidente do TSE, eles fariam um banho de sangue, já que as forças progressistas iriam resistir. Estejamos atentos e vigilantes, para que esse período tenebroso de nossa história não fique impune e, mais uma vez, para que não se repita. 

Sem Anistia!