O papa e os paspalhos
Alberto Cantalice
Copacabana é um bairro cantado em prosa e verso por magníficos artistas brasileiros. De Princesinha do Mar, de João de Barro, o Braguinha, ao Mar de Copacabana, de Gilberto Gil, passeou também pela voz de Geraldo Azevedo em parceria com Carlos Fernando, na belíssima Em Copacabana.
Cartão postal mundialmente conhecido, é notabilizado também pelos festejos de virada de ano e por shows memoráveis: milhões assistiram em suas calçadas e areias a Roberto Carlos, Stevie Wonder e os Rolling Stones, e vem aí a Madonna. Em 25 de julho de 2013, mais de 1 milhão de pessoas foram ao bairro para receber o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude.
Mas nem só positividades compõem o panorama do bairro e seu microcosmo social. No último domingo, 21 de abril, um espectro golpista e “fascistizante” rondou a região. Sobre carreta sonorizada, pontificaram parte dos responsáveis pela sanha golpista de 8 de janeiro: os estimuladores Jair Bolsonaro e o Pastor Silas Malafaia.
Diferentemente do Papa Francisco, que 10 anos atrás veio pregar a paz e a concórdia entre os povos, os paspalhos de agora pregaram contra a união e a Constituição. Sem a credibilidade do Pontífice, mas usando a religião e a fé como instrumento de propaganda política, arregimentaram em torno de 30 mil pessoas.
Não é pouco, convenhamos. Juntar 30 mil pessoas para ouvir as sandices dessa dupla é uma demonstração de resiliência e força. Dignos de nota foram os apelos ao bilionário Elon Musk, inclusive em inglês, como se fosse o trumpista Musk um paladino da liberdade e da democracia. Uma falácia.
Os decibeis do golpismo não podem ser subestimados. Eles estão vivos e à espreita. Os ataques às instituições foram a tônica do discurso do pastor. Um discurso claramente terceirizado pelo Capitão. Os pedidos de anistia aos golpistas compuseram o cenário da pantomima.
Mais do que arregimentar a “tropa”, os atos protagonizados pela dupla miram a anistia e a reabilitação do Capitão. Fato que, se for ao menos considerado, seria um verdadeiro tapa na cara da democracia brasileira.
Eles continuarão ladrando. Faz parte!