Com estreia de filme de Tendler, FPA inicia ciclo de debates sobre os 60 anos do golpe no RJ
Silvio Tendler foi homenageado em dezembro de 2023 pelo Ministério dos Direitos Humanos durante mostra de cinema (Foto: Ariel Morais/ MDHC)


Para não esquecer e jamais permitir que se repita, a Fundação Perseu Abramo dará início a um ciclo de debates públicos sobre os 60 anos do golpe empresarial-militar de 1964.

Intitulado “Ditaduras na América Latina”, o primeiro encontro do ciclo será realizado no dia 27 de março na sede do PT do Rio de Janeiro. Com a presença de Francisco Teixeira e Maria Paula Araújo, professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadores do tema. A mesa foi mediada pelo historiador e professor da UFABC Valter Pomar, também diretor da Fundação Perseu Abramo. O evento será transmitido pela FPA ao vivo em seu canal no YouTube

Durante o encontro, será exibido, em primeira mão, um documentário do lendário cineasta Silvio Tendler, “Memória e Exílio”. Homenageado em dezembro do ano passado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, durante a 13ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, Tendler havia exibido na ocasião apenas um trecho do filme.

Uma das organizadoras do encontro no Rio, a diretora Elen Coutinho, diretora da FPA e responsável pelo Centro de História e Documentação Sérgio Buarque de Holanda, afirma que o ciclo de debates faz parte da resistência popular a todos os autoritarismos, velhos ou novos.

“O ciclo busca contribuir com as discussões sobre o golpe militar no Brasil e o cenário internacional naquele período, abordando os prejuízos políticos, econômicos e sociais causados pela ditadura, bem como a luta e conquista da democracia”, diz ela.

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MEMÓRIA E JUSTIÇA – Documentário de Silvio Tendler dá nome à dor de vítimas da ditadura

“Promover este espaço é importante para debatermos o golpe, o militarismo, os processos de transição e as fundamentais lutas políticas e populares contra o autoritarismo. Lembrar para não esquecer, para honrar a memória de todas e todos que lutaram pelo fim da ditadura, e para que nunca se repita em nosso país”, completa Elen.

O ciclo promovido pela FPA será composto por outros quatro debates, em diferentes regiões do país.

Serviço:

Lançamento “Ciclo de Debates Didatura Nunca mais!”

Data: 27/3

Local: Sede estadual do PT RJ, Rua Sete de Setembro, 164, Centro

O evento será transmitido pela Fundação Perseu Abramo ao vivo em seu canal no YouTube

Uma parceria dos diretórios PT RJ, PT BA, PT PA, PT PE e PT RS

Silvio Tendler

Silvio Tendler (Rio de Janeiro RJ 1950). Cineasta, professor e historiador. Aproxima-se do cinema em 1965 pela atividade cineclubista e, em 1968, torna-se presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro. Trabalha como assistente de direção na produtora Mapa Filmes. Em 1968, entrevista o marinheiro João Cândido (1880 – 1969), líder da Revolta da Chibata (1910), mas não realiza o projeto cinematográfico. Após o Ato Constitucional nº 5 (AI-5), de 1968, viaja para o Chile no fim do ano de 1970, e se inicia em fotografia e edição, participando de produções de cunho popular.

Seus três primeiros longas-metragens marcam o alcance do diálogo que estabelece com o público, até hoje as melhores bilheterias de documentários no Brasil: 1 milhão com Jango (1984), 800 mil com Os Anos JK, uma Trajetória Política (1980) e 1,8 milhão de espectadores com O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981). O primeiro trabalho, Os Anos JK, além de boa recepção do público, é premiado pela crítica. Para o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet (1936), em Os Anos JK é clara a opção do diretor pela valorização da imagem de um “presidente liberal”, na articulação entre cenas de cinejornais e os comentários do locutor. O sociólogo José Mário Ortiz Ramos, ao comparar Os Anos JKJango – filme mais premiado de Tendler -, identifica no primeiro a marca de uma narrativa fria (acentuada pela voz off) pontuada pelo eixo “desenvolvimento e democracia” e, em Jango, o papel da montagem que expressa o posicionamento político do diretor na composição de imagens, fotografias, depoimentos, textos e trilhas musicais que tornam a narrativa mais dinâmica.

Em Encontro com Milton Santos ou o Mundo Globalizado Visto do Lado de Cá (2006) e Utopia e Barbárie (2010), Tendler muda a forma de suas abordagens. No primeiro, resgata o momento histórico da virada do século não mais pela trajetória política de um personagem, mas pelas próprias ideias do geógrafo; em Utopia e Barbárie, apresenta importantes eventos políticos dos últimos 50 anos, enfatizando sua experiência e observação pessoal, a partir da reinterpretação de sequências de obras cinematográficas incorporadas e de depoimentos.