Com estreia de filme de Tendler, FPA inicia ciclo de debates sobre os 60 anos do golpe no RJ
Para não esquecer e jamais permitir que se repita, a Fundação Perseu Abramo dará início a um ciclo de debates públicos sobre os 60 anos do golpe empresarial-militar de 1964.
Intitulado “Ditaduras na América Latina”, o primeiro encontro do ciclo será realizado no dia 27 de março na sede do PT do Rio de Janeiro. Com a presença de Francisco Teixeira e Maria Paula Araújo, professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadores do tema. A mesa foi mediada pelo historiador e professor da UFABC Valter Pomar, também diretor da Fundação Perseu Abramo. O evento será transmitido pela FPA ao vivo em seu canal no YouTube
Durante o encontro, será exibido, em primeira mão, um documentário do lendário cineasta Silvio Tendler, “Memória e Exílio”. Homenageado em dezembro do ano passado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, durante a 13ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, Tendler havia exibido na ocasião apenas um trecho do filme.
Uma das organizadoras do encontro no Rio, a diretora Elen Coutinho, diretora da FPA e responsável pelo Centro de História e Documentação Sérgio Buarque de Holanda, afirma que o ciclo de debates faz parte da resistência popular a todos os autoritarismos, velhos ou novos.
“O ciclo busca contribuir com as discussões sobre o golpe militar no Brasil e o cenário internacional naquele período, abordando os prejuízos políticos, econômicos e sociais causados pela ditadura, bem como a luta e conquista da democracia”, diz ela.
“Promover este espaço é importante para debatermos o golpe, o militarismo, os processos de transição e as fundamentais lutas políticas e populares contra o autoritarismo. Lembrar para não esquecer, para honrar a memória de todas e todos que lutaram pelo fim da ditadura, e para que nunca se repita em nosso país”, completa Elen.
O ciclo promovido pela FPA será composto por outros quatro debates, em diferentes regiões do país.
Serviço:
Lançamento “Ciclo de Debates Didatura Nunca mais!”
Data: 27/3
Local: Sede estadual do PT RJ, Rua Sete de Setembro, 164, Centro
O evento será transmitido pela Fundação Perseu Abramo ao vivo em seu canal no YouTube
Uma parceria dos diretórios PT RJ, PT BA, PT PA, PT PE e PT RS
Silvio Tendler
Silvio Tendler (Rio de Janeiro RJ 1950). Cineasta, professor e historiador. Aproxima-se do cinema em 1965 pela atividade cineclubista e, em 1968, torna-se presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro. Trabalha como assistente de direção na produtora Mapa Filmes. Em 1968, entrevista o marinheiro João Cândido (1880 – 1969), líder da Revolta da Chibata (1910), mas não realiza o projeto cinematográfico. Após o Ato Constitucional nº 5 (AI-5), de 1968, viaja para o Chile no fim do ano de 1970, e se inicia em fotografia e edição, participando de produções de cunho popular.
Seus três primeiros longas-metragens marcam o alcance do diálogo que estabelece com o público, até hoje as melhores bilheterias de documentários no Brasil: 1 milhão com Jango (1984), 800 mil com Os Anos JK, uma Trajetória Política (1980) e 1,8 milhão de espectadores com O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981). O primeiro trabalho, Os Anos JK, além de boa recepção do público, é premiado pela crítica. Para o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet (1936), em Os Anos JK é clara a opção do diretor pela valorização da imagem de um “presidente liberal”, na articulação entre cenas de cinejornais e os comentários do locutor. O sociólogo José Mário Ortiz Ramos, ao comparar Os Anos JKa Jango – filme mais premiado de Tendler -, identifica no primeiro a marca de uma narrativa fria (acentuada pela voz off) pontuada pelo eixo “desenvolvimento e democracia” e, em Jango, o papel da montagem que expressa o posicionamento político do diretor na composição de imagens, fotografias, depoimentos, textos e trilhas musicais que tornam a narrativa mais dinâmica.
Em Encontro com Milton Santos ou o Mundo Globalizado Visto do Lado de Cá (2006) e Utopia e Barbárie (2010), Tendler muda a forma de suas abordagens. No primeiro, resgata o momento histórico da virada do século não mais pela trajetória política de um personagem, mas pelas próprias ideias do geógrafo; em Utopia e Barbárie, apresenta importantes eventos políticos dos últimos 50 anos, enfatizando sua experiência e observação pessoal, a partir da reinterpretação de sequências de obras cinematográficas incorporadas e de depoimentos.