Brasil está de volta ao grupo das dez maiores economias do mundo
A economia brasileira apresenta sinais de recuperação, com um crescimento de 2,9% no PIB em 2023, surpreendendo as previsões do mercado. Este resultado coloca o Brasil como a nona maior economia do mundo, reflexo da melhoria no movimento redistributivo e no aumento da renda per capita das famílias. O governo Lula, em especial o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contribuiu para contrariar o pessimismo do mercado e impulsionar o crescimento econômico do país
A economia brasileira está em recuperação. Os dados consolidados apontam isso. O mais recente deles é o crescimento de 2,9% do PIB em 2023, taxa próxima do que previa o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início do ano passado, enquanto previsões de consultorias ligadas ao chamado mercado situavam suas previsões nos arredores de 1%.
Os dados do PIB de 2023 foram divulgados na sexta, 1º de março. O resultado coloca o Brasil como a nona maior economia do mundo, marcando o regresso do país ao grupo das dez maiores, do qual havia sido desalojado em 2019.
Do desastre ao triunfo? Ainda é cedo, mas o resultado é, sem dúvida, uma vitória do governo Lula, e de Haddad em particular, por ter sido o que mais contradisse publicamente o pessimismo do mercado. E, com o cuidado de fazê-lo com a ajuda de indicadores e projeções racionais, foi além da bravata ou do otimismo profissional.
Ainda na semana passada, outro número do IBGE associou o crescimento do PIB a uma melhoria no movimento redistributivo. A renda per capita das famílias brasileiras subiu 16,5% no país, ano passado, chegando à média de R$ 1.893 por mês, R$ 268 a mais que em 2022. O PIB per capita também cresceu, um avanço real de 2,2% em comparação ao ano anterior.
Esse resultado é reflexo do aumento da massa salarial como um todo no país. Segundo o mesmo IBGE, a renda média das pessoas com trabalho subiu para R$ 3.078 em janeiro deste ano, uma elevação de R$ 48 em relação a janeiro de 2023. Essa tendência já vinha sendo observada ao longo do ano passado, e superou o pico de anos anteriores. Análise produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no final de 2023, mostrou que o rendimento médio dessazonalizado havia sido o maior desde 2017.
Mercado de trabalho
É relativamente simples concluir que esses dados têm relação, entre outros fatores que veremos adiante, com o aumento do salário-mínimo, fortalecido após o retorno da política de valorização permanente, que havia sido criada no primeiro mandato do presidente Lula, em 2008. Em janeiro de 2024, com o valor do mínimo elevado a R$ 1.412, o aumento real (já considerada a inflação) foi de 4,57%.
Quando o salário-mínimo sobe, aumentam os valores também do piso previdenciário – cerca de 70% dos pensionistas brasileiros são referenciados nesse valor – e dos contratos e acordos para pagamento de trabalhadores e trabalhadoras em alguns setores informais. A composição desses ganhos puxa para cima as rendas familiares.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o aumento real do mínimo em 2024 é o sexto maior da série histórica desde 2003, ano do primeiro mandato de Lula.
Há também os programas de transferência de renda, Bolsa-Família à frente, e os recentes programas como o Pé de Meia, que reserva uma bolsa de incentivo à permanência de estudantes no Ensino Médio regular, com depósitos de R$ 200 no ato da matrícula e nove parcelas de R$ 1.800 para quem comprovar assiduidade durante o ano letivo, depositadas em poupança, além de R$ 1 mil pagos na conclusão do curso.
Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho absorve mais pessoas. Em 2023, a taxa de desocupados (sem trabalho algum) fechou o ano em 7,8%, a menor desde 2014.
No mercado de trabalho formal, a tendência observada até aqui é também de melhora. Segundo o Dieese, 83,2% das negociações salariais em janeiro de 2024 obtiveram reajustes acima da inflação medida pelo INPC. Em média, esses aumentos reais foram de 1,89%. Em dezembro de 2022, os números foram bem inferiores: 61,8% das negociações salariais obtiveram aumento real, em média de 0,67%.
No entanto, a recomposição completa das perdas inflacionárias acumuladas, segundo o Dieese, exigiria reajuste de 3,71% em janeiro de 2024. Esse descompasso, no entanto, já foi maior: em dezembro de 2022, o reajuste necessário era de 5,97%.
No mercado informal, números recentes indicam que os trabalhadores sem carteira assinada obtiveram acréscimo médio de 5,4% nos rendimentos no trimestre encerrado em janeiro de 2024, enquanto os chamados conta-própria chegaram a aumento de 3,5%, segundo dados da PNAD Contínua, do IBGE. Considerados esses números, os rendimentos dos informais crescem mais, com a ressalva de ausência de direitos trabalhistas e previdenciários na maior parte dos casos.
No quadro amplo, o rendimento real habitual de todos os trabalhos (R$ 3.078) cresceu 1,6% no trimestre encerrado em janeiro de 2024, e 3,8% no acumulado do ano, ainda segundo o IBGE.
É preciso destacar que a queda das taxas básica de juros, iniciada pelo Banco Central após muita pressão por parte do governo, especialmente do presidente Lula, ajuda a compor os dados positivos no quesito rendimentos e empregos. E a manutenção das taxas de inflação sob controle, também.
Outro dado positivo – mas numa categoria sempre volátil – refere-se ao superávit primário das contas públicas em janeiro: R$ 79,3 bilhões acima das despesas. A forte arrecadação marcou presença no mês, batendo recorde histórico de R$ 280,6 bilhões. Entre as razões, a taxação de fundos de investimentos dos muito ricos.
Indústria
Em meio a boas notícias, alguns entraves permanecem. No crescimento de 2,9% do PIB em 2023, alguns setores estratégicos continuam encolhidos. A indústria, embora tenha crescido 1,6% em seu conjunto, em relação ao ano anterior, encolheu 1,3% no grupo indústria de transformação, justamente aquele que funciona como indicador de produtos com maior densidade tecnológica e forte capacidade de contratação de mão de obra.
Essa queda de 1,3% foi causada, segundo o IBGE, pela retração nos segmentos de produtos químicos, máquinas e equipamentos, metalurgia, e indústria automotiva. No caso específico de máquinas e equipamentos, a queda aponta perspectiva de baixo crescimento futuro, uma vez que este tipo de produto é adquirido por empresas que pretendem investir na ampliação da produção.
A tendência de queda em máquinas e equipamentos já fora apontada em relatório do IPEA, relativo ao último trimestre do ano passado, que registrou 5,5% negativos no consumo de bens produzidos pelo segmento. No acumulado do ano, a redução foi de 6,6%. No setor de equipamentos elétricos, a queda no consumo, nos mesmos períodos, foi de 5,2% e 6,8%, respectivamente. Por sinal, a demanda por bens industriais, no período apontado pelo estudo do IPEA, anda atrás da produção desde, pelo menos, dezembro de 2022.
Essa deficiência é traduzida por outro dado negativo divulgado pelo IBGE. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida dos investimentos na ampliação da capacidade produtiva, caiu 3% no ano passado, sendo o segmento de máquinas e equipamentos o que mais pesou, com queda de 9,4%.
Bons resultados futuros no setor indústria vão depender muito da melhora desse indicador FBCF, ou seja, do investimento produtivo. O plano Nova Indústria, que engloba diferentes ações para alavancar a pesquisa e o desenvolvimento no setor, pretende injetar R$ 300 bilhões em dinheiro público, à espera da adesão da iniciativa privada em novos negócios e projetos. O PAC reserva R$ 1,7 trilhão.
A taxa de investimentos no Brasil vinha mantendo uma média de 16% do PIB ao ano. Para um crescimento robusto e sustentado da economia, seria preciso algo próximo de 25% anuais em relação ao PIB, segundo cálculo do economista e professor André Roncaglia, da Unifesp. O período recente em que o país mais se aproximou dessa taxa ideal foi entre julho de 2013 e julho de 2014, segundo pesquisa do Monitor PIB do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV: 21%. Em julho de 2023, segundo o mesmo IBRE, foram 18,3% do PIB.
O aumento dessa taxa será crucial para que o PIB brasileiro cresça mais nos anos seguintes. Teste para a equipe econômica do governo Lula e tempo de espera para que os resultados mais sólidos de iniciativas de longo prazo – como a reforma tributária e o projeto Nova Indústria, por exemplo – apareçam.
Por enquanto, as previsões de crescimento do PIB para 2024, feitas pelo mercado, chegam a 1,68%, segundo recente boletim Focus, do Banco Central. O ministro Fernando Haddad fala em 2,2%.
Retranca
Equipe diversa, trabalho em sinergia
Análise de William Nozaki, assessor especial da Presidência do BNDES
A equipe econômica tem caminhado em sinergia. No primeiro ano do governo Lula III, o Ministério da Fazenda criou uma nova regra fiscal, aprovou uma reforma tributária histórica, tem criado iniciativas que beneficiam a transição ecológica.
O Ministério do Planejamento está desenhando o projeto das rotas de integração sul-americana. O Ministério de Desenvolvimento construiu o Nova Indústria Brasil, uma nova política industrial da ordem de R$ 300 bi. O Ministério do Trabalho reconstruiu a revalorização do salário-mínimo. O Ministério da Gestão promoveu essa inovação que é o Concurso Público Nacional Unificado, com mais de 6600 vagas.
A Casa Civil está coordenando o Novo PAC, que pode envolver cerca de R$1,7 tri de investimentos públicos e privados em infraestrutura nos próximos anos. Os bancos públicos voltaram a ganhar participação no mercado de crédito após oito anos. No BNDES aumentaram consultas, desembolsos e lucro, a carteira do banco chegou a R$ 515 bilhões em 2023.
Esses são apenas alguns exemplos de compromissos entregues pela atual equipe econômica do presidente Lula. A grande diferença dos governos anteriores é que tudo isso tem sido feito depois de uma tentativa de destruição do Estado brasileiro, com uma necessidade redobrada de negociação com o Congresso e com um Banco Central independente nem sempre amigável.